PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

Objetivos: - A contribuição do negro na formação social brasileira - A discriminação racial no Brasil. Movimentos de resistência de negros pela cidadania e pela vida; - Políticas sociais e população negra: trabalho, saúde, educação e moradia; - Relações étnico-raciais, multiculturalismo e currículo; - Aspectos normativos da educação de afro-brasileiros. - EMAIL PARA CONTATO: negrosenegras@gmail.com

May 26, 2008

Macy Gray e Herbie Hancock falam sobre seus shows no Brasil

Cantora e pianista norte-americanos fazem apresentações em São Paulo e no Rio.
Músicos participam de evento gratuito no próximo domingo no Parque Villa Lobos.

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A cantora Macy Gray está de volta ao Brasil

O pianista Herbie Hancock já perdeu as contas de quantas vezes esteve no Brasil. A mais recente foi em 2006, como uma das atrações do Tim Festival. Já a primeira, em 1968, foi durante a sua lua de mel. “De 40 anos para cá, notei o quanto a arquitetura de São Paulo mudou. O trânsito também está bem diferente. Parece que todo mundo agora tem um carro”, falou, simpático e bem humorado, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (26) em São Paulo.
Além de apresentações individuais no Rio e na capital paulista (nesta terça e quarta, respectivamente), o músico vai dividir o palco do Telefônica Open Jazz, no próximo domingo (1º de junho) no Parque Villa Lobos, com a cantora americana Macy Gray. Eles farão shows separados, mas a nova diva da música negra também demonstrou empolgação ao falar do evento, gratuito e ar livre, a partir das 15h.
“Estou muito ansiosa para reencontrar o público brasileiro, que costuma ser muito receptivo nos meus shows”, disse a artista, com seu tom de voz nasalado inconfundível. “Vai ter muita gente lá, e espero que seja uma boa oportunidade pra se divertir, fumar e beber. Herbie e eu ainda não conversamos a respeito, mas é possível que role uma parceria na hora”, adiantou Macy, que se apresenta nesta segunda em São Paulo e quinta-feira (29) na capital carioca.

Fã de Djavan, a cantora disse admirar a cingalesa MIA e ter vontade de gravar com a banda Brazilian Girls (que, apesar do nome, não tem nenhum integrante brasileiro na formação). Ao longo dos quatro discos de sua carreira – o mais recente é “Big”, lançado em março do ano passado – Macy Gray tem flertado com jazz, soul, funk, R&B e hip hop. “Comecei a estudar música aos sete anos e sempre fui muito aberta a todos os estilos. Quando você começa a compor, todas as influências afloram.”

Mãe de três filhos com idades entre 10 e 13 anos, Gray se divide entre a atuação no cinema – ela está no elenco do filme “Mama black widow”, ao lado da cantora Rihanna - e no musical “Chicago”, da Broadway. Além disso, há seis meses ela se dedica a um novo álbum, que vai ter “dance music com uma pegada jazz”.

“As participações ainda são segredo. Só posso dizer que são parcerias fantásticas. Um dos convidados vocês certamente conhecem. Ele é alto e seu nome começa com a letra ‘s’”, comentou, misteriosa.

Da última vez que esteve no Brasil, na programação do Live Earth, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 2007, a cantora usou uma roupa com a mensagem “Darfur red alert”. Desta vez, ela diz que pretende arrumar um tempo para fazer compras na Rua Oscar Freire, meca do consumo de luxo em SP. “Os preços são bem melhores do que em Nova York”, disparou.

‘Jazz não é competição’

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O pianista americano Herbie Hancock em coletiva em São Paulo

Vencedor do Grammy de álbum do ano por “River: The Jonni letters”, com canções de Joni Mitchell – o segundo disco de jazz da história a receber tal honraria -, Herbie Hancock reforçou que “jazz não é competição, e sim compartilhamento de idéias”.

O pianista recordou o tempo em que foi integrante do quinteto do lendário trompetista Miles Davis, cercado de novos talentos, nos anos 60. “Ele nos pagava para praticar no palco, na frente das pessoas. Miles representa os valores artísticos que devemos buscar.”

“Quando pensei em um motivo que possa ter me levado a ganhar um prêmio, a idéia que me veio à cabeça foi excelência. Os jazzistas perseguem a excelência. Infelizmente hoje muitos artistas procuram apenas fama e fortuna. Ainda há muito trabalho a ser feito. Só vou me aposentar quando meu coração parar de bater.”

Macy Gray

São Paulo
Quando: segunda (26), às 21h30
Onde: HSBC Brasil, Rua Bragança Paulista, 1281, Sto. Amaro, tel. (11) 4003-1212
Quanto: de R$ 200 a R$ 400

Rio de Janeiro
Quando: quinta (29), às 21h30
Onde: Vivo Rio, Av. Infante Dom Henrique, 85, Pq. do Flamengo, tel. (21) 4003-1212
Quanto: de R$ 200 a R$ 400

Herbie Hancock

Rio de Janeiro
Quando: terça (27), às 21h30
Onde: Vivo Rio, Av. Infante Dom Henrique, 85, Pq. do Flamengo, tel. (21) 4003-1212
Quanto: de R$ 200 a R$ 400

São Paulo
Quando: quarta (28), às 21h30
Onde: HSBC Brasil, R. Bragança Paulista, 1281, Sto. Amaro, tel. (11) 4003-1212
Quanto: de R$ 100 a R$ 400

Telefônica Open Jazz
Quando: domingo (1º de junho), a partir das 15h
Onde: Parque Villa Lobos, Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1655, Pinheiros , São Paulo
Quanto: grátis



Fonte: portal G1

Senhoras e Senhores... Diretamente de Angola, nossa correspondente.. Seja bem vinda!!

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Meire Regina Fonseca Gomes é enfermeira, tem 28 anos, brasileira, mas mora em Luanda, capital de Angola há 8 anos e será uma de nossas correspondentes dando notícias de toda a África do Sul além de notícias em toda Angola, é claro.
Em nome da equipe do blog Projeto Negros e Negras em Movimento, seja bem vinda e desde já obrigado(a) pelo apoio.

Equipe do Blog

May 15, 2008

Ex-senador John Edwards anuncia apoio a candidatura de Barack Obama

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O ex-aspirante presidencial democrata John Edwards anunciou hoje seu apóio à candidatura do senador por Illinois, Barack Obama.

"Existe um homem que sabe como criar a mudança, que sabe que chegou o momento de criar um só Estados Unidos, não dois. E esse homem é Barack Obama", disse o ex-senador do estado da Carolina do Norte, em um ato realizado em Grand Rapids (Michigan).

No entanto, Edwards que antes de anunciar seu apoio a Obama fez uma homenagem a sua rival, a senadora Hillary Clinton, previu que Obama terá uma dura tarefa se a convenção do partido confirmar sua candidatura, no final de agosto, em Denver (Colorado).

Caso seja feita essa confirmação, Obama enfrentará o senador John McCain, o candidato republicano, nas eleições de 4 de novembro.

"Não vai ser fácil, mas estamos prontos para esta eleição. Lutaremos com nossa vida", prometeu Edwards em discurso de 20 minutos que pronunciou junto ao senador por Illinois.

Edwards manifestou que no que resta agora da campanha seu objetivo é conseguir a união sólida do partido que se viu afetada pela inflamada luta travada entre Obama e Hillary Clinton pela candidatura.

"Quando terminar o processo de nomeação, teremos que estar unidos com o profundo convencimento de que podemos mudar este país", destacou.

Segundo os analistas, o apoio do ex-senador da Carolina do Norte ajudará Obama a aumentar sua lista de apóio entre a classe trabalhadora branca, um setor demográfico que se voltou majoritariamente pela senadora Hillary Clinton.

O anúncio de Edwards, que renunciou a suas aspirações presidenciais em janeiro passado, foi feito um dia após a ex-primeira-dama obter uma vitória arrasadora nas primárias da Virgínia Ocidental, um estado de maioria branca.

O respaldo de Edwards, que foi candidato à Vice-Presidência dos EUA nas eleições de 2004, terá um importante impacto na definição da luta pela candidatura democrata, destacou o estrategista desse partido, Peter Fenn, citado pela rede de televisão "CNN".

Segundo David Saunders, que assessorou Edwards durante sua campanha, o momento do respaldo não poderia ser melhor para Obama, especialmente após sua derrota na Virgínia Ocidental onde Hillary o superou por 41 pontos percentuais.

Por sua vez, Joe Klein, especialista em assuntos políticos da revista "Time", explicou que a inclinação de Edwards para Obama deve-se ao fato de que Hillary Clinton representa muitos dos aspectos que ele criticou na campanha.

Entre eles, citou o sistema democrata de Washington que, segundo Edwards, intensificou seus contatos com o mundo empresarial na última década.

Durante sua campanha, Edwards se viu eclipsado por Obama, que pretende ser o primeiro presidente negro dos EUA, e por Hillary Clinton, que deseja ser a primeira mulher a chegar à Casa Branca.

Desligamento de Marina Silva sai no Diário Oficial

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Ex-ministra do Meio Ambiente anunciou saída na última terça-feira.
No lugar dela, assumirá o secretário de Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc.


O Diário Oficial da União desta quinta-feira (15) traz o desligamento da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do cargo, anunciado na terça-feira (13).

No lugar dela, assumirá o secretário de Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, que deve se encontrar com o presidente Lula na próxima segunda-feira (19) para tratar dos detalhes da contratação.

Minc está em Paris, em viagem oficial, e recebeu o convite na última quarta-feira (14), por telefone.

Marina Silva foi indicada como ministra do Meio Ambiente em 2002, no primeiro mandato do presidente Lula. No mesmo ano, foi reeleita para o Senado.

Campanha dos 120 anos de Abolição da Escravatura estimulará população a se manifestar sobre o racismo

Secretaria de Estado da Cultura de SP fará campanha de cartas para marcar ações ligadas à Consciência Negra


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A Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo lança na próxima terça-feira, 13/5, nos 120 anos de Abolição da Escravatura, a campanha "Racismo: se você não fala, quem vai falar?" Durante 90 dias, a população do Estado poderá se manifestar sobre esse tema por meio de cartas que serão colocadas em mil urnas espalhadas por locais de grande acesso do público, como estações do metrô, agências do Poupatempo, escolas e museus, entre outros.

Os 120 melhores textos, escolhidos por uma comissão de consultores, serão publicados em um livro que marcará as ações da Secretaria da Cultura nas comemorações do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro.

"Criamos uma tribuna livre na qual as pessoas poderão escrever livremente sobre um tema tão importante, presente em nosso dia-a-dia", afirma o secretário de Estado da Cultura, João Sayad. "Queremos deixar marcados tanto o 13 de maio como o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, como datas de reflexão". A campanha, inspirada em modelo adotado na Colômbia, abrangerá a capital e municípios do Estado.

Serão criados 30 mil cartazes e 100 mil folders-carta que serão usados pelos interessados em participar da campanha. As urnas, nas quais serão depositadas as cartas, ficarão em locais públicos de fácil acesso. As mensagens também poderão ser enviadas pela internet, pelo site www.120cartas.ig.com.br, ou em carta comum, endereçada à Caixa Postal 13888, CEP: 01216-970, São Paulo/SP.

"É importante discutir o preconceito e o racismo, principalmente quando temos duas datas tão emblemáticas para os negros brasileiros, como o 13 de maio e o 20 de novembro. A campanha permitirá que as pessoas encontrem um veículo para canalizar o que pensam a esse respeito", afirma Leandro Rosa, assessor de cultura para Gêneros e Etnias da Secretaria de Estado da Cultura, um dos responsáveis pela campanha.

As cartas depositadas nas urnas serão lidas por estudantes de universidades de São Paulo. Eles receberão dos consultores Dagoberto Fonseca, Luiz Carlos dos Santos, Oswaldo de Camargo e Vera Benedito, treinamento específico para uma leitura qualificada do material. Todos os textos inscritos pelo site, desde que autorizados pelos autores, permanecerão disponíveis para consulta.


LANÇAMENTO CAMPANHA DOS 120 ANOS DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

Dia 13/5/08, às 11h

Local: Salão Nobre da Secretaria de Estado da Cultura

Rua Mauá, 51 - Salão Nobre - 1° andar


Mais informações:


Núcleo Secretaria da Cultura:

Luiz Vita - (11) 3351-8161 - 9227-6559 - luvita@sp.gov.br

Silvia Vivona - (11) 3351-8243 - 9146-4493 - svivona@sp.gov.br

Flavia Faiola - (11) 3351-8162 - 9762-9950 - ffaiola@sp.gov.br

Atenção

EM BREVE... NOTÍCIAS FRESQUINHAS DIRETAMENTE DE..... ANGOLA.. ISSO MESMO... AGUARDEM!!!!!

Agradecimentos

Turma da Bahia:

Laertino Marques,
Bianca,
Fabiana,
Roberta,
Rose Maria,
Cristiane Vieira,
Marco Antônio Peixoto,
Carlinhos,
Carla Lopes (ONG CRIA),
Roberto e Idenir Couto,
Jerônimo (o rei da Pituba),
Kennedy da Silva (Candiba),
Rose (Eunápolis),
Carlos Santos,
e Juliana

São Paulo:

Carlos Felipe,
Éder Fontes Vianna,
Edson Silva,
Eunice da Silva,
Carla Figueira(Campos Novos Paulista),
e Marcos Teixeira

Gislene Silva Ramos(Goiânia - GO)
Alex Araújo do estado de Alagoas (não disse a cidade)

May 13, 2008

Abolição da escravatura e o intercâmbio afro-latino

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Zulu Araújo
Presidente da Fundação Cultural Palmares

Ano de muitas celebrações, 2008 também precisa tornar-se um ano de muitas reflexões para que, assim, possamos avançar com mais celeridade na qualificação da democracia no Brasil. Democracia substantiva, que ofereça resultados concretos para a melhoria das condições de vida dos brasileiros, na qual possamos tornar real e palpável a liberdade e a cidadania cantada em prosa e verso pelos poetas.

No caso da Abolição da Escravatura, efeméride que completa 120 anos de existência, faz-se mais necessário ainda, identificarmos e avaliarmos o quanto avançamos no combate ao racismo e a discriminação e mais ainda consolidarmos essas conquistas, que não são poucas, pois os bolsões poderosos de resistência à democratização racial do país continuam mais ativos do que nunca. Bolsões que têm se articulado e vociferado não apenas no combate às políticas de ações afirmativas voltadas para a população negra, mas a toda e qualquer política que signifique a inclusão dos pobres, enquanto cidadãos plenos de direitos, sejam eles negros, nordestinos ou indígenas.
Práticas discriminatórias - É uma lógica perversa, atrasada, mas que conta com muitos aliados e apoio de setores importantes da sociedade brasileira, particularmente na mídia. Portanto, não podemos subestimar nem muito menos ignorar. Temos sim, é que entendê-la na sua perspectiva de perpetuação de privilégios, de exclusão das maiorias e de legitimação das suas práticas discriminatórias. Para tanto, temos que combatê-las com astúcia, determinação e inteligência, acrescidos da generosidade e do sentimento de justiça.

Nessa trajetória, um aspecto importante é a construção de novos aliados tanto no campo nacional quanto internacional, para engrossarmos as nossas fileiras, até porque essa não é uma luta exclusiva dos afro-brasileiros, mas de todos aqueles que sonham com um mundo onde a origem étnica, religiosa ou social não seja usada para a negação de direitos fundamentais a qualquer ser humano como é a educação, a saúde ou o trabalho. Vivemos em um mundo globalizado em que as ferramentas do conhecimento e da informação são essenciais. Manuseá-las corretamente e colocá-las a serviço dos discriminados e excluídos é mais que uma opção, é uma obrigação.
América Latina revisitada - Conhecer melhor os nossos vizinhos que passaram por situações semelhantes, dialogar com suas experiências, disponibilizar as nossas e fazer avançar a luta pela igualdade de direitos, acessos e oportunidades na América Latina deve ser um objetivo prioritário. Afinal, os afro-equatorianos, afro-colombianos, afro-venezuelanos etc. buscam tanto quanto nós o reconhecimento e o direito de serem tratados enquanto cidadãos plenos de direitos nos seus respectivos países e não com um erro que precisa ser corrigido. A imaginária América Latina, que durante mais de quatro séculos foi dominada, esquadrinhada e escravizada por portugueses e espanhóis e construída e desenvolvida pelo trabalho escravo, precisa ser revisitada pelos brasileiros no geral e pelos afros- brasileiros no particular.

É com este espírito que a Fundação Cultural Palmares, que também celebra vinte anos de existência, em 2008, pretende contribuir nas reflexões sobre os 120 anos da abolição, com algo novo e instigante: O Programa de Intercâmbios Afro-Latinos. Em verdade, o Programa já encontra-se em andamento, ações já foram realizadas em vários países como o Brasil, Colômbia e Equador e todas elas confluíram para a necessidade de trabalharmos de forma articulada e permanente. O I Seminário Internacional Intercâmbios Afro-Latinos - Diagnósticos e Perspectivas para a Comunidade Negra na América Latina, que ocorreu no mês de julho de 2007, realizado pela Fundação Cultural Palmares, no Rio de Janeiro e na Bahia, foi o primeiro passo nesse sentido.

Ali identificamos o quanto estamos próximos na dor e no sofrimento, frutos das discriminações produzidas pelo crime de "lesa- humanidade" que foi a escravidão e o quanto estamos distantes uns dos outros na análise e nos processos para a sua superação. O próximo passo dessa longa caminhada ocorrerá em breve, quando do lançamento do Observatório Afro-Latino em parceria com o Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores. O Observatório será um poderoso instrumento para a promoção e a divulgação da cultura afro nos países da região, tanto no campo das idéias que estão em gestação no rico e variado mundo da cultura afro-latina quanto nas experiências e conquistas sociais das comunidades negras em cada um dos seus países. Além disso, o Observatório Afro-Latino será um excelente canal para a interlocução qualificada entre intelectuais, pesquisadores, estudiosos e ativistas afro-latinos.

O Programa como um todo é ambicioso, amplo e desafiador, pretende trabalhar nos mais diversos campos: literatura, cinema, artesanato, música, teatro etc. Mas terá como foco central de suas ações a difusão da enorme contribuição civilizatória que os descendentes de africanos trouxeram para a América Latina, apesar das condições trágicas em que viveram por quase quatro séculos. Enfim, uma das muitas maneiras afirmativas que celebraremos os 120 anos da Abolição, ou seja compartilhando com os nossos vizinhos afro-latinos a dor e a delícia de sermos o que somos: seres humanos.

Axé !

Fórum Permanente de Discussões Negros e Negras em Movimento

“O governo do Brasil, país onde se aboliu a escravidão há pouco mais de 100 anos atrás, deveria ter adotado medidas concretas e leis concretas, como a lei 10.639 , naquele momento, lá no meio da Abolição, assim como outras leis necessárias deveriam ter sido adotadas. Era preciso repartir terras e instituir ações afirmativas do tipo sócio-raciais para inserir parte da população que serviu publicamente como trabalho animal. Não somente no Brasil, mas nas 21 nações da América Latina e nos Estados Unidos, tudo foi construído com mão de obra escrava”.(Prof. Dr. Carlos Moore Weedemburg )

Várias são as formas de mobilização e organização da ação política e da ação educativa, especificamente para a questão referente a educação de afrodescendentes em Angra dos Reis. A Comissão Pró-Fórum Permanente para Discussão das relações étnico-raciais na Educação* entendeu que através da participação e de decisões coletivas poderiam ser criados, concomitantemente, Fóruns Permanentes de Discussões.

1. Torna obrigatório o ensino da História da África e dos afrodescendentes na Educação Básica
2. II Seminário sobre Diversidade Cultural e Étnica e as Práticas Escolares. Angra dos Reis, 2007.

*Comissão formada a partir do Curso de Extensão Negros e Negras em Movimento: as relações étnico-raciais na escola e o debate sobre a lei 10639/03.


Em Angra dos Reis (RJ):

1ª Reunião / 2008:
Data – 15/05
Local – Teatro Municipal Câmara Torres
Horário – 13h30min às 21h

Programação:
13h30min – Abertura
14h – Apresentação de Projetos desenvolvidos nas escolas de Angra dos Reis
17h – Café
17h30 – Atividade Cultural
18h – Mesa de debates.

2ª. Reunião /2008:
Data: 16/07
Durante a IV Jornada Pedagógica

3ª Reunião /2008:
Data: 23/09
Durante o Sensibiliz@rte

4ª Reunião / 2008:
Data: 05/11
Durante a Mostra de Turismo

- O Fórum Virtual:
Pesquise negrosenegrasemmovimento_angra no yahoogrupos - uma opção para troca permanente de informações referentes a eventos, publicações e inovações pedagógicas, organizados pelos diferentes agentes sociais em torno desta temática. Este também pode representar um veículo político para a mobilização e organização que, de forma ágil, enfrente e dê respostas às questões que queiramos aprofundar.

Coordenação do Curso de Extensão Negros e Negras em Movimento:
Pró-Reitoria de Extensão/UFF Angra
NAPI – GEF- SMECTI Angra dos Reis
Grupo de Consciência Negra Ylá Dudu

Lei Áurea completa 120 anos (assista ao vídeo)

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Políticos, intelectuais, escravos e libertos participaram do movimento que culminou na abolição da escravatura. O Brasil foi o último país a tomar esta atitude. A história é contada no Museu Imperial na cidade de Petrópolis, RJ.

Assista ao vídeo: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM826859-7823-LEI+AUREA+COMPLETA+ANOS,00.html

Dicas de livros

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BONECAS NEGRAS, CADÊ?

Livro de Maria Zilá Teixeira de Matos
Editora: Mazza Edições

A pouca visibilidade dos negros é percebida nos livros didáticos, no currículo das escolas, nas revistas, na televisão, nas propagandas e até nos brinquedos. As bonecas negras ainda são raridade.
Este livro vem sugerir a visibilidade do negro na escola, com atividades práticas para professores do Ensino Fundamental e para todos os interessados em educar para a Paz. Esta obra atende a dois Temas Transversais sugeridos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs): A Ética e a Pluraridade Cultural. Dentre outros objetivos deste livro estão: conhecer a cultura negra para valorizar e respeitar a diversidade; buscar justiça ao questionar preconceitos; praticar o diálogo para resolver problemas; preparar a criança discriminada para se posicionar dignamente, em casos de racismo, com argumentos científicos, éticos e jurídicos. Traz ainda interessantes dicas para o educador.


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ALFABETO NEGRO

Livro de Rosa Margarida de Carvalho Rocha e Cristina Agostinho
Editora: Mazza Edições

É um instrumento concreto de valorização da diversidade étnica e cultural do país em consonâncias com os objetivos dos nossos parâmetros curriculares do MEC, no que tangem sos seus temas transversais.

13 DE MAIO - 120 ANOS DE LUTA

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"A FELICIDADE DO NEGRO É UMA FELICIDADE GUERREIRA"
(Wally Salomão)

Editorial: Lei Áurea - Igualdade Racial no Brasil só virá em cinco décadas

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“A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte: Art. 1º – É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art. 2º – Revogam-se as disposições em contrário”.


A Lei Áurea, maior marco da história da escravidão no país, completa hoje 120 anos sem ter, no entanto, muito que comemorar. O Movimento Negro no Brasil considera que a medida foi apenas uma conquista na área jurídica, mas não social: os negros – 45% da população atual do país – permaneceram marginalizados e até hoje lutam contra o preconceito.

O estudo “Desigualdade Racial no Brasil”, que deve ser divulgado no início da tarde de hoje pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que nas atuais velocidade e intensidade de implantação de políticas públicas, a igualdade só virá daqui cinco décadas, ou seja, no aniversário de 170 anos da abolição da escravatura.

Enquanto uns vêem grandeza no documento que pôs fim à escravidão no Brasil, outros acreditam que a data apenas jogou os negros nas ruas, sem eira nem beira e sem qualquer condição econômica. Após a abolição, não houve qualquer política pública para integrar os ex-escravos à sociedade.

O Brasil assumiu responsabilidades internas para diminuir as diferenças sociais entre negros e brancos há algum tempo, entretanto, deixa a desejar quando se trata de promovê-las. Essa é a opinião do coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, que realça a dificuldade do diálogo interno no governo. “Toda política do governo para lograr êxito precisa ter um respaldo da maioria, o que eu percebo no governo Lula é que não parece ser um consenso”, destaca.

“A obra abolicionista não está completa”, concorda Edson Santos, ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República. “Nossos ancestrais negros, embora libertos da escravidão, não receberam da sociedade ou do Estado os instrumentos que lhe permitiriam a verdadeira emancipação”, completa.

Dos cerca de 15 milhões de analfabetos brasileiros, mais de 10 milhões são negros e pardos, segundo dados de 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ensino superior não é diferente: o percentual de estudantes brancos é 34% maior que o de jovens negros ou pardos na faculdade. Além disso, os salários são, em média, 40% maiores na mesma faixa de escolaridade, considerando os rendimentos-hora.

Ainda de acordo com o IBGE, no que se refere à distribuição entre os 10% mais pobres e o 1% mais rico do país os negros ou pardos correspondem a 73% entre os mais pobres e somente a 12% dos mais ricos. Por outro lado, os brancos representam 26,1% da população mais pobre, e quase 86% da classe mais favorecida.

Os negros detêm apenas 25,1% das vagas no quadro funcional das empresas, apesar de representarem 46,6% da população economicamente ativa e 44,7% da ocupada, segundo levantamento do Instituto Ethos e do Ibope Inteligência. A participação do negro se afunila mais nos cargos de chefia: 17,4% na supervisão e 17% na gerência e apenas 3,5% no quadro executivo.

A situação é mais alarmante se observada a participação da mulher. As negras representam 7,4% do quadro funcional, 5,7% da supervisão, 3,9% da gerência, e somente 0,26% do quadro executivo. De acordo com a pesquisa, de cerca de 1,5 mil diretores de empresas, apenas quatro são mulheres negras.

Baixa execução da Seppir

O fim da escravidão não resolveu a questão dos negros brasileiros na opinião do ministro Edson Santos. Ele cita como instrumento de combate ao racismo e conquista da igualdade racial à “SEPPIR, criada com a missão de coordenar as políticas públicas e ações afirmativas para a proteção dos direitos sociais de indivíduos em grupos raciais e étnicos, com ênfase na população negra”.

Entretanto, em 2007, apenas 53% dos R$ 36,6 milhões autorizados a Seppir foram aplicados em programas e ações da pasta. O total gasto, em valores atualizados, equivale a R$ 19,6 milhões da verba autorizada (veja tabela dos últimos cinco anos). Em 2006, a pasta utilizou um valor superior ao registrado em 2007, foram gastos 57% dos R$ 36,6 milhões autorizados, o que equivale a R$ 20,9 milhões.

Dando seqüência a série histórica, em 2005 estavam previstos em orçamento R$ 22,9 milhões para a secretaria, mas foram efetivamente gastos apenas R$ 16,1 milhões. Apesar dos recursos previstos em orçamento terem sido mais baixos em 2004, este foi o ano em que a secretaria melhor utilizou o orçamento, chegando a aplicar 73% dos R$ 20,9 milhões autorizados, ou seja, R$ 15,4 milhões.

A subsecretária de Políticas para Comunidades Tradicionais da Seppir, Gilvânia Silva,
ressalta que também não basta ter espaço no orçamento, é necessário que os estados e municípios tenham iniciativa de solicitar o benefício, e no caso dos ministérios, cobre implementação das ações. “A Seppir não tem o poder de intervir, apenas de tentar convencê-los a aplicar os recursos”, afirma a subsecretária, referindo-se as ações de responsabilidade de outros ministérios.

O negro na literatura

“A abolição não foi capaz de dar voz ao negro na literatura brasileira”, afirma o doutor em Teoria Literária pela Universidade de Brasília Amauri Rodrigues da Silva. O pesquisador analisou romances da época da abolição até a contemporaneidade e acredita que “a literatura ecoa o discurso da história e da antropologia” ao invés de exercer sua “determinação estética”, que é o contraponto e a pluralidade.

O estudo mostra que os personagens negros não possuem falas em primeira pessoa e são moldados de acordo com o que o narrador oferece ao leitor. Mesmo na literatura contemporânea (a partir de 1960) quando o negro aparece, o faz de forma inexpressiva e freqüentemente para tratar de mazelas. “Como se o negro fosse apenas isso”, enfatiza.

Antes da Lei Áurea, outras três leis que beneficiavam os escravos foram aprovadas. A primeira foi a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, que determinou o fim do tráfico de escravos para o Brasil. A segunda foi a Lei do Ventre Livre, de 1871 quando foi determinado que os filhos das escravas nascidos a partir da aprovação da lei estavam libertos. Já em 1885, a Lei dos Sexagenários libertou os escravos com mais de 65 anos.


Por Amanda Costa e Priscilla Mendes
Do Contas Abertas

May 10, 2008

Festa de Jongo no Quilombo São José

Valença - RJ
17 de maio

Festa de Jongo em Homenagem aos Pretos - Velhos O Quilombo São José é uma comunidade de 200 negros da mesma família que preservam o jongo, dança de roda considerada uma das origens do samba, trazida de Angola para a região Sudeste do Brasil-Colônia pelos escravizados.

Essa família permanece há 150 anos na mesma terra mantendo ricas tradições como o jongo,
a umbanda, o calango, o terço de São Gonçalo, a medicina natural, rezas e benzeduras,
agricultura familiar entre outras.

Até 3 anos atrás a comunidade não possuía luz elétrica vivendo em semi-isolamento. A floresta, as casas de barro com telhados de palha, o candeeiro, o ferro à brasa e o fogão de lenha ainda fazem parte do cotidiano.

Programação:

10 horas - Missa afro ao ar livre com 10 padres negros
12:30 horas - Feijoada
14:00 h - Capoeira, Maculele e Samba de Roda
14:30 h - Percussão com Banda Italata de Itaboraí
15:00 h - Boi Pintadinho e Mineiro Pau de Miracema
15:30 h - Jongo da União Jongueira da Serrinha
16:00 h - Jongo de Vassouras e Jongo de Barra do Piraí
16:30 h - Jongo de Pinheiral
17:00 h - Jongo de Arrozal
17:30 h - Jongo do Quilombo São José
18 h - Confraternização entre os grupos
19 h - Benção da fogueira pela matriarca da comunidade Mãe Tetê
19:30 h - Homenagem aos Pretos-Velhos e início da Roda de Jongo na beira da fogueira com a participação de todos os presentes.
21 h às 7 h da manhã - Baile de Calango intercalado com Roda de Jongo na fogueira até o sol raiar.
Durante toda à noite e madrugada barraquinhas venderão comidas típicas e artesanatos do local e serão assadas batatas na fogueira.

Domingo
8:00 h - Café da manhã
9:00 h - Jogo de futebol da comunidade e visitantes
12:00 h - Encerramento da festa

Reservas e informações:

Telefone: (21) 2222.3458 ou 9649.3823 ( falar com Marcos André ou Aline )

Email: jongo@quilombosaojose.com.br

Programa de extensão Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu inaugura atividades

Niterói - RJ
Aconteceu

O Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu, um programa de extensão desenvolvido pela UFF em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como parte do Plano de Salvarguarda do Jongo, Patrimônio Imaterial do Brasil, foi inaugurado no sábado, dia 12 de abril, com atividades na sede do Sesc Niterói. O programa decorre da experiência de trabalho acumulada pela universidade junto às comunidades jongueiras. Vários setores da UFF estão comprometidos com essas comunidades em atividades de pesquisa e de extensão, como o Departamento de Educação Matemática (Santo Antônio de Pádua, Noroeste Fluminense), o Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi), o Laboratório de Livre Criação e o Observatório Jovem. A coordenação do programa espera envolver outros cursos e setores da universidade no desenvolvimento das ações.

Entre as ações do Pontão, estão: articular as comunidades jongueiras da região sudeste, por meio da realização de reuniões e eventos nos territórios jongueiros; equipar as comunidades com computador e internet para facilitar a articulação em rede; contribuir para o com computador e internet para facilitar a articulação em rede; contribuir para o fortalecimento de outras formas de expressão das comunidades jongueiras, como Folia de Reis, Mineiro Pau, Boi Pintadinho, Calango, Pastorinhas, dentre outras; constituir uma Comissão Gestora do Pontão de Cultura.

Na capacitação, o Pontão deve oferecer cursos no campo da organização e do desenvolvimento comunitário, a partir das necessidades e demandas das comunidades, e quatro oficinas: organização comunitária; jovens lideranças jongueiras; registro em áudio, vídeo e fotografia; memória, história oral e educação patrimonial. Participam do início das atividades do Pontão de Cultura do Jongo/Caxambu comunidades localizadas em municípios do Rio de Janeiro - Angra dos Reis, Barra do Piraí, Miracema, Pinheral, Porciúncula, Quissamã, Rio de Janeiro (Serrinha), Santo Antônio de Pádua e Valença (São José da Serra) -, São Paulo - Guaratinguetá, Piquete e São José dos Campos -, Minas Gerais - Carangola e Recreio - e Espírito Santo - São Mateus.

Outras informações pelo telefone (21) 2629-2465 ou pelo e-mail pontaojongo@gmail.com
15/4/2008


Fonte:Portal da Universidade Federal Fluminense - Notícias

May 08, 2008

A presença africana na música popular brasileira

Por Nei Lopes *

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A cultura brasileira e, logicamente, a rica música que se faz e consome no país estruturam-se a partir de duas básicas matrizes africanas, provenientes das civilizações conguesa e iorubana. A primeira sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela decorrentes. Entretanto, embora de africanidade tão expressiva, a música popular brasileira, hoje, ao contrário da afro-cubana, por exemplo, distancia-se cada vez mais dessas matrizes. E caminha para uma globalização tristemente enfraquecedora.

Das congadas ao samba: a matriz congo

Já nos primeiros anos da colonização, as ruas das principais cidades brasileiras assistiam às festas de coroação dos “reis do Congo”, personagens que projetavam simbolicamente em nossa terra a autoridade dos muene-e-Kongo, com quem os exploradores quatrocentistas portugueses trocaram credenciais em suas primeiras expedições à África subsaariana.

Esses festejos, realçados por muita música e dança, seriam não só uma recriação das celebrações que marcavam a entronização dos reis na África como uma sobrevivência do costume dos potentados bantos de animarem suas excursões e visitas diplomáticas com danças e cânticos festivos, em séqüito aparatoso. E os nomes dos personagens, bem como os textos das cantigas entoadas nos autos dramáticos em que esses cortejos culminavam, eram permeados de termos e expressões originadas nos idiomas quicongo e quimbundo.

Esses cortejos de “reis do Congo”, na forma de congadas, congados ou cucumbis (do quimbundo kikumbi, festa ligada aos ritos de passagem para a puberdade), influenciados pela espetaculosidade das procissões católicas do Brasil colonial e imperial, constituíram, certamente, a velocidade inicial dos maracatus, dos ranchos de reis (depois carnavalescos) e das escolas de samba – que nasceram para legitimar o gênero que lhes forneceu a essência.

Sobre as origens africanas do samba veja-se que, no início do século XX, a partir da Bahia, circulava uma lenda, gostosamente narrada pelo cronista Francisco Guimarães, o Vagalume, no clássico Na roda do samba, de 1933 [1], segundo a qual o vocábulo teria nascido de dois verbos da língua iorubá: san, pagar, e gbà, receber. Depois de Vagalume, muito se tentou explicar a origem da palavra, alguém até lhe atribuindo uma estranha procedência indígena. Mas o vocábulo é, sem dúvida, africaníssimo. E não iorubano, mas legitimamente banto.

Samba, entre os quiocos (chokwe) de Angola, é verbo que significa “cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito”. Entre os bacongos angolanos e congueses o vocábulo designa “uma espécie de dança em que um dançarino bate contra o peito do outro”. E essas duas formas se originam da raiz multilinguística semba, rejeitar, separar, que deu origem ao quimbundo di-semba, umbigada – elemento coreográfico fundamental do samba rural, em seu amplo leque de variantes, que inclui, entre outras formas, batuque, baiano, coco, calango, lundu, jongo etc.

Buscando comprovar essa origem africana do samba – nome que define, então, várias danças brasileiras e a música que acompanha cada uma delas –, veremos que o termo foi corrente também no Prata como samba ou semba, para designar o candombe, gênero de música e dança dos negros bantos daquela região.

Responsáveis pela introdução, no continente americano, de múltiplos instrumentos musicais, como a cuíca ou puíta, o berimbau, o ganzá e o reco-reco, bem como pela criação da maior parte dos folguedos de rua até hoje brincados nas Américas e no Caribe, foram certamente africanos do grande grupo etnolingüístico banto que legaram à música brasileira as bases do samba e a grande variedade de manifestações que lhe são afins.

Dentre as danças do tipo batuque ou samba listadas pela etnomusicóloga Oneyda Alvarenga [2], com exceção da tirana e da cachucha, de origem européia, todas elas trazem, no nome e na coreografia, evidências de origem banta, apresentando muitas afinidades com a massemba ou rebita, expressão coreográfica muito apreciada nas regiões angolanas de Luanda, Malanje e Benguela, e que teve seu esplendor no século XIX.

No Rio de Janeiro, a modalidade mais tradicional do samba é o partido-alto, um samba cantado em forma de desafio por dois ou mais participantes e que se compõe de uma parte coral e outra solada. Essa modalidade tem raízes profundas nas canções do batuque angolano, em que as letras são sempre improvisadas de momento e consistem geralmente na narrativa de episódios amorosos, sobrenaturais ou de façanhas guerreiras. Segundo viajantes como o português Alfredo Sarmento [3], nos sertões angolanos, no século XIX, havia negros que adquiriam fama de grandes improvisadores e eram escutados com o mais religioso silêncio e aplaudidos com o mais frenético entusiasmo. A toada que cantavam era sempre a mesma, e invariável o estribilho que todos cantavam em coro, batendo as mãos em cadência e soltando de vez em quando gritos estridentes.

Segundo Oneyda Alvarenga, a estrofe solista improvisada, acompanhada de refrão coral fixo, e a disposição coro-solo são características estruturais de origem africana ocorrentes na música afro-brasileira. Tanto elas quanto a coreografia revelam, no antigo samba dos morros do Rio de Janeiro, a permanência de afinidade básicas com o samba rural disseminado por boa parte do território nacional. Observe-se, ainda, que os batuques festivos de Angola e Congo certamente já se achavam no Brasil havia muito tempo. E pelo menos no século passado eles já tinham moldado a fisionomia do nosso samba sertanejo.

Mas até aí, o batuque e o samba a que os escritores se referem são apenas dança. Até que Aluísio Azevedo, descrevendo, no romance O cortiço [4], um pagode em casa da personagem Rita Baiana, nos traz uma descrição dos efeitos do “chorado” da Bahia, um lundu, tocado e cantado. Esse lundu a que o romancista se refere foi certamente o ancestral do samba cantado, herdeiro que era das canções dos batuques de Angola e do Congo.

Com a estruturação, na cidade do Rio de Janeiro, da comunidade baiana na região conhecida historicamente como “Pequena África” – espaço sóciocultural que se estendia da Pedra do Sal, no morro da Conceição, nas cercanias da atual Praça Mauá, até a Cidade Nova, na vizinhança do Sambódromo, hoje –, o samba começa a ganhar feição urbana. Nas festas dessa comunidade a diversão era geograficamente estratificada: na sala tocava o choro, o conjunto musical composto basicamente de flauta, cavaquinho e violão; no quintal, acontecia o samba rural batido na palma da mão, no pandeiro, no prato-e-faca e dançado à base de sapateados, peneiradas e umbigadas. Foi aí, então, que ocorreu, entre o samba rural baiano e outras formas musicais, a mistura que veio dar origem ao samba urbano carioca. E esse samba só começou a adquirir os contornos da forma atual ao chegar aos bairros do Estácio e de Osvaldo Cruz, aos morros, para onde foi empurrada a população de baixa renda quando, na década de 1910, o centro do Rio sofreu sua primeira grande intervenção urbanística. Nesses núcleos, para institucionalizar seu produto, então, foi que, organizando-o, legitimando-o e tornando-o uma expressão de poder, as comunidades negras cariocas criaram as escolas de samba.

Daí que, em conclusão, todos os ritmos e gêneros existentes na música popular brasileira de consumo de massa, quando não são reprocessamento de formas estrangeiras, se originam do samba ou são com ele aparentados.

Afoxés e blocos afro: a matriz iorubá

As condições históricas da vinda maciça de iorubanos para o Brasil, do fim do século XVIII aos primeiros anos da centúria seguinte, fizeram com que a língua desse povo se transformasse numa espécie de língua geral dos africanos na Bahia e seus costumes gozassem de franca hegemonia. Esse fato, aliado, posteriormente, ao trabalho de reorganização das comunidades jeje-nagôs empreendido principalmente pela ialorixá Mãe Aninha, Obá Biyi (1869-1938) e pelo babalaô Martiniano do Bonfim, Aji Mudá (1858-1943), na Bahia, em Recife e no Rio de Janeiro, fez com que os iorubás passassem a ser vistos como a principal referência no processo civilizatório da diáspora africana no Brasil. Mas mesmo antes das ações concretas daquelas duas grandes lideranças, as tradições iorubanas já faziam presença na música. Tanto assim que, a partir do carnaval de 1897, saía às ruas de Salvador, encenando, com canto, danças e alegorias, temas da tradição nagô, o clube Pândegos d’África, considerado o primeiro afoxé baiano.

O afoxé, cordão carnavalesco de adeptos da tradição dos orixás, e por isso outrora também chamado “candomblé de rua”, apresenta-se cantando cantigas em iorubá, em geral relacionadas ao universo do orixá Oxum. Esses cânticos são tradicionalmente acompanhados por atabaques do tipo “ilu”, percutidos com as mãos, além de agogôs e xequerês, no ritmo conhecido como “ijexá”.

Observe-se que a etimologia dos nomes dos instrumentos citados remete sempre ao iorubá (ìlu, agogo, sèkérè). Da mesma forma que o vocábulo “afoxé” se origina em àfose (encantação; palavra eficaz, operante) e corresponde ao afro-cubano afoché, o qual significa “pó mágico”; enfeitiçar com pó. E aí está a origem histórica do termo: os antigos afoxés procuravam “encantar” os concorrentes.

Os afoxés experimentam um período de vitalidade até o final da década de 1890, para declinarem até o término dos anos de 1920 e ressurgirem na década de 1940. O grande remanescente desses grupos é, hoje, o afoxé Filhos de Gandhi, fundado na cidade de Salvador em 18 de fevereiro de 1948. Criado “para divulgação do culto nagô, como forma de afirmação étnica”, segundo seus estatutos, e originalmente constituído por estivadores, no final da década de 1990, gozando do respaldo oficial, reunia mais de 4 mil associados, entre os quais um grande número de pais-de-santo. Em 12 de agosto de 1951 era fundado no Rio de Janeiro, no bairro da Saúde, seu homônimo carioca.

Nos anos de 1980, no bojo do movimento pelos direitos dos negros, surgem em Salvador os blocos afro, com o objetivo explícito de reafricanizar o carnaval de rua da capital baiana. Usando temas que buscam uma conexão direta com a África e a afirmação da negritude, essas agremiações criaram uma nova estética. Como acentua João José Reis, eles reinventaram as ricas tradições da cultura negra local, “para exaltar publicamente a beleza da cor, celebrar os heróis afro-brasileiros e africanos, para contar a história dos países da África e das lutas negras no Brasil, para denunciar a discriminação, a pobreza, a violência no dia-a-dia do negro” [5]. Além disso, foram responsáveis pela estruturação de uma nova linguagem musical, que se expressa no estilo comercialmente conhecido como axé music, transformado em produto de domínio nacional.

A atuação de vários blocos afro, transcendendo o âmbito do carnaval, materializou-se dentro de um projeto estético-político e estendeu-se ao trabalho de recuperação, preservação e valorização da cultura de origem africana e de desenvolvimento comunitário. Nesse sentido, o trabalho, por exemplo, do Olodum e do Ilê Aiyê ganhou dimensão e reconhecimento internacionais.

Visto isso, examinemos, agora, o ponto de interseção entre as matrizes bantas e sudanesas na música brasileira, que se verifica, exatamente, através da religiosidade.

Música popular e religiões africanas

A origem banta (bantu) do samba, como vimos, já está devidamente comprovada. Da mesma forma, é também banta a origem dos vocábulos “umbanda”, “macumba” “mandinga” etc, pertencentes ao universo dos cultos bantos do Brasil. Antes, porém, de entrarmos no cerne do nosso objetivo, façamos o seguinte esclarecimento.

O registro mais antigo que se conhece de cultos bantos em nosso país é o da cabula, denunciado numa pastoral do bispo D. João Corrêa Nery no Espírito Santo, no fim do século retrasado. Congregando, entre 1888 e 1900, mais de 8 mil pessoas, a comunidade dos cabulistas, entretanto, e certamente também em função da repressão, não dispunha de templo organizado em espaço físico exclusivo. Suas reuniões de culto eram secretas, realizando-se ora em casa de um adepto ora no meio da mata, mas com práticas, vestimentas e paramentos – segundo o famoso relato do bispo Nery, divulgado por Nina Rodrigues [6] – bastante semelhantes aos da umbanda.

Observe-se ainda que toda a literatura que se ocupou de comparar as concepções religiosas dos povos bantos de Angola e Congo com as dos iorubás apontou uma falta de substância daquelas em relação a estas outras. Mas o que é certo é que elas guardam entre si diferenças estruturais. Uma delas é a não existência de divindades intermediárias de forma humana, e sim gênios da natureza criados por Nzambi (este nome ocorre, com pequenas variantes, em quase todas as línguas bantas), mas sem relação alguma com formas corporais humanas; outra é a não existência de templos, como vimos; e ainda outra é a não fixação de datas certas para a celebração de cultos.

Até a virada dos séculos XIX e XX, parece que essas diferenças eram bem compreendidas, como ocorre, hoje, em Cuba. E as informações de que dispomos sobre a cabula nos parecem bastante esclarecedoras a esse respeito.

No entanto, com o estabelecimento das primeiras comunidades baianas no Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX, começa a se verificar, ao que parece, uma supremacia iorubana (nagô), como vemos, por exemplo, nos textos de João do Rio [7] sobre as religiões africanas na antiga capital federal. Essa prevalência é que vai, talvez, determinar o surgimento dos candomblés chamados “de Angola” e “de Congo” e a iorubanização da linha ritual conhecida como “Omolocô”, os quais, ao que consta, já não exprimem o sentido original das concepções religiosas dos povos bantos, mas apenas adaptam os princípios jeje-nagôs a um sonhado universo angolo-conguês.

Feito o esclarecimento, vamos ver que a matriz principal da umbanda nos parece ser essa cabula capixaba, a qual deu origem ao omolocô, cuja expansão se verificou particularmente no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX.

Pouco antes dessa expansão, a partir da segunda metade do século XIX, o processo gradativo que vai levar à abolição da ordem escravista traz, para a terra carioca, milhares de negros livres em busca de trabalho, que vêm juntar-se aos africanos, crioulos e mestiços que já ganhavam a vida na antiga capital do Império, principalmente nas zonas central e portuária. Esses negros livres é que vão constituir a já citada “Pequena África” e os outros núcleos dinamizadores do samba no Rio de Janeiro.

Examinemos, agora, um significativo texto do sambista Aniceto do Império. Nascido e falecido no Rio (1912-1993), Aniceto de Menezes e Silva Jr., um dos fundadores da escola de samba Império Serrano, destacou-se como exímio partideiro pela facilidade com que improvisava versos nas rodas de samba. Seu texto, letra de um samba ainda inédito [8], é o seguinte: “Assumano, Alabá, Abaca, Tio Sanin/ e Abedé me batizaram/ na lei de muçurumim...”. Vejamos quem são esses personagens a quem o partideiro se refere.

“Assumano”, algumas vezes erroneamente grafado como “Aço Humano”, foi o nome através do qual se fez conhecido Henrique Assumano Mina do Brasil, famoso alufá radicado no Rio de Janeiro e pertencente à comunidade da Pequena África, na virada do século XIX para o XX. Residiu no nº 191 da Praça Onze e tinha como freqüentadores de sua casa, entre outros, o célebre sambista Sinhô e o jornalista Francisco Guimarães, o Vagalume, fundador da crônica de samba no Rio. O nome “Assumano” é o abrasileiramento do antropônimo Ansumane ou Ussumane (do árabe Othman ou Utmân), usual entre muçulmanos da antiga Guiné Portuguesa.

No mesmo contexto, João Alabá, falecido em 1926, foi um famoso babalorixá, certamente baiano, radicado no Rio de Janeiro. Um dos mais prestigiados de seu tempo, sua casa era no número 174 da rua Barão de São Félix, nas proximidades do terminal da Estrada de Ferro Central do Brasil. Seu nome marca sua origem nagô (alagba, chefe do culto de Egungun; pessoa venerável, de respeito; ou antropônimo dado ao segundo filho que nasce depois de gêmeos). Era pai de santo da legendária Tia Ciata, também mãe-pequena de sua comunidade religiosa.

Da mesma forma, Cipriano Abedé, falecido em 1933, foi um famoso babalorixá do Rio de Janeiro, no princípio do século XX, com casa, primeiro na rua do Propósito e depois na rua João Caetano, próximo à Central do Brasil. O nome Abedé, redução de Alabedé, designa uma das manifestações ou qualidades do orixá Ogum.

Já “Abaca” é provavelmente corruptela de Abu Bacar, nome muçulmano, mas o personagem não foi por nós identificado. “Tio Sanim”, por sua vez, parece ser o mesmo Babá Sanin, morador na rua dos Andradas, e mencionado no já referido livro de João do Rio.

O universo dos sambistas pioneiros não se restringiu, porém, apenas à comunidade baiana e muitos menos ao povo de muçurumim (linha ritual de influência islâmica), já que, quando essa arte começa a se expressar nas escolas de samba, grande parte dos fundadores era oriunda do Vale do Paraíba e adjacências (zona de irradiação cultural bantu), como foi o caso do principal fundador da escola de samba Império Serrano, o legendário Mano Elói.

Mano Elói foi o nome pelo qual se fez conhecido Elói Antero Dias, sambista nascido em Engenheiro Passos, RJ, em 1888, e falecido na cidade do Rio, para onde viera com 15 anos de idade, em 1971. Em 1936 foi eleito “cidadão samba” [9] em concurso promovido pela União Geral das Escolas de Samba do Brasil. E em 1947 ajuda a fundar a escola de samba Império Serrano, da qual foi presidente executivo e, depois, presidente de honra. Em 1930, Mano Elói tornou-se o pioneiro do registro em disco de cânticos rituais afro-brasileiros. Nesse ano, com o Conjunto Africano, gravou um ponto de Exu, dois de Ogum e um de Iansã. Seu companheiro nessa empreitada foi outro sambista pioneiro, o legendário “Amor”, sugestivo apelido de Getúlio Marinho da Silva, nascido em Salvador, em 1889 e falecido no Rio, onde viveu desde os 6 anos de idade, em 1964. Exímio bailarino, foi mestre-sala de vários ranchos carnavalescos. De 1940 a 1946 foi o “cidadão-samba” do carnaval carioca. Compositor, foi co-autor da marcha junina “Pula a fogueira”, até hoje executada.

O pioneirismo dos sambistas Amor e Mano Elói deve-se ao fato de eles terem levado para o disco verdadeiros cânticos rituais, executados e interpretados como autênticos pontos de macumba, com atabaques etc. Mas, antes deles, outros artistas da música popular já tinham criado obras baseadas nessa tradição, como foi o caso de Chiquinha Gonzaga com “Candomblé” (batuque composto em parceria com Augusto de Castro e lançado em 1888, provavelmente em comemoração à Lei Áurea, já que Chiquinha era ativa abolicionista), de “Pemberê” (de Eduardo Souto e João da Praia, lançado em 1921) e de “Macumba jeje” (lançada por Sinhô em 1923).

Depois de Mano Elói e Amor, vamos ter, entre muitas outras, “Xô, curinga” (Pixinguinha, Donga e João da Baiana), lançada em 1932 com a rubrica “macumba”, “Yaô” (Pixinguinha e Gastão Viana, 1938), “Uma festa de Nana” (Pixinguinha, 1941); “Macumba de Iansã” e “Macumba de Oxossi” (de Donga e Zé Espinguela, sambista e pai-de-santo, gravadas em 1940) e “Benguelê” (Pixinguinha, 1946) etc.

Contemporâneo de Amor e Mano Elói, e um verdadeiro elo entre o mundo do samba e o dos cultos afro, foi o tata Tancredo Silva Pinto. Compositor de “Jogo proibido”, de 1936, tido por muitos como o primeiro samba de breque, e co-autor de “General da banda”, grande sucesso do carnaval de 1949, além de autor de vários livros sobre a doutrina umbandista, Tancredo foi um grande líder do samba e da umbanda. Tanto que em 1947 ajudava a fundar a Federação Brasileira das Escolas de Samba e, logo depois, criava a Confederação Umbandista do Brasil.

Sobre a criação da Federação, Tata Tancredo (como era conhecido) contava um fato interessante, narrado no livro Culto omoloko:

... esse episódio passou-se na casa da minha tia Olga da Mata. Lá arriou Xangô, no terreiro São Manuel da Luz, na Avenida Nilo Peçanha, 2.153, em Duque de Caxias. Xangô falou: – Você deve fundar uma sociedade para proteger os umbandistas, a exemplo da que você fundou para os sambistas, pois eu irei auxiliá-lo nesta tarefa. Imediatamente tomei a iniciativa de fazer a Confederação Umbandista do Brasil, sem dinheiro e sem coisa alguma. Tive uma inspiração e compus o samba General da banda, gravado por Blecaute [10], que me deu algum dinheiro para dar os primeiros passos em favor da Confederação Umbandista do Brasil [11].

Quase vinte anos depois desse sucesso de Tancredo e do cantor Blecaute, em 1965, surge para o disco Clementina de Jesus, cantora nascida em Valença, RJ, em 1901, e falecida no Rio, onde vivia desde menina, em 1987. Descoberta para a vida artística já sexagenária, afirmou-se como uma espécie de “elo perdido” entre a ancestralidade musical africana e o samba urbano. Seu trabalho de maior expressão fez-se através da interpretação de jongos, lundus, sambas da tradição rural e cânticos rituais recriados, como o já mencionado “Benguelê”, de Pixinguinha.

Logo depois do surgimento de Clementina, outra importante interseção entre a música popular brasileira e a religiosidade africana ocorre com os “afro-sambas” (“Canto de Ossanha”, “Ponto do Caboclo Pedra Preta” etc) lançados por Baden Powell e Vinícius de Moraes em 1966. E é o mesmo Vinícius que, agora em parceria com Toquinho, vai lançar um “Canto de Oxum”, em 1971, e um “Canto de Oxalufã”, em 1972.

Daí em diante, a vertente começa a se rarefazer, com raras incursões, como a do cantor e compositor Martinho da Vila, que, em um de seus discos do final dos anos 70, registrou uma seqüência de cantigas rituais da umbanda.

As escolas de samba e os sambas-enredo

Com relação às escolas de samba cariocas – cujos terreiros (terreiros e não “quadras”, como hoje) até os anos de 1970 obedeciam a um regimento tácito semelhante ao dos barracões de candomblé, com acesso à roda permitido somente às mulheres, por exemplo –, veja-se que elas, hoje, são, ainda, um veículo em que a temática africana é recorrente. Muito embora seus enredos e sambas enfoquem a África por uma perspectiva meramente folclorizante.

O samba-enredo – esclareçamos – é uma modalidade de samba que consiste em letra e melodia criadas a partir do resumo do tema elaborado como enredo de uma escola de samba. Os primeiros sambas-enredo eram de livre criação: falavam da natureza, do próprio samba, da realidade dos sambistas. Com a oficialização dos concursos, na década de 1930, veio a exaltação dirigida de personagens e fatos históricos. Os enredos passaram a contar a história do ponto de vista da classe dominante, abordando os acontecimentos de forma nostálgica e ufanística. A reversão desse quadro só começou a vir em 1959, quando a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro apresentou, com uma homenagem ao pintor francês Debret, e com grande efeito visual, o cotidiano dos negros no Brasil à época da colônia e do Império, o que motivou uma seqüência de enredos sobre Palmares, Chica da Silva, Aleijadinho e Chico Rei, voltados para o continente africano. Mas, se a ingerência governamental já não era tão forte, pelo menos enquanto cerceamento da liberdade na criação dos temas, um outro tipo de interferência começava a nascer: a dos cenógrafos de formação erudita ou treinados no show-business, criadores desses enredos, os quais imprimiram ao carnaval das escolas a feição que ele hoje ostenta e que, direta ou indiretamente, selaram o destino dos sambas-enredo. Tanto que, no final do século XIX, o samba-enredo é um gênero em franca decadência. Em cerca de 60 anos de existência, no entanto, a modalidade mostrou sua força em dezenas de obras antológicas.

Entre os enredos apresentados pelas escolas de samba cariocas das várias divisões, a partir de 1948, muitos fazem referência mais direta à África, como, por exemplo: “Navio negreiro” (Vila Isabel, 1948, e Salgueiro, 1957), “Quilombo dos Palmares” (Salgueiro, 1960, Viradouro, 1970, e Unidos de Padre Miguel, 1984), “Chico Rei” (União de Vaz Lobo, 1960, Salgueiro, 1964, e Viradouro, 1967), “Ganga Zumba” (Unidos da Tijuca, 1972), “Valongo” (Salgueiro, 1976, e Unidos de Padre Miguel, 1988), “Galanga, o Chico Rei” (Unidos de Nilópolis, 1982), “Ganga Zumba, raiz da liberdade” (Engenho da Rainha, 1986). Isso sem falar em outros tantos temas como “Porque Oxalá usa ekodidé”, “Oju Obá”, “Logun, príncipe de Efan”, “O mito sagrado de Ifé”, “Oxumará, a lenda do arco-íris”, “Alafin Oyó”, “Príncipe Obá, rei dos descamisados”, “Ngola Djanga”, “De Daomé a São Luiz, a pureza mina-jeje”, “Império negro, um sonho de liberdade, “Kizomba, festa da raça”, “Preito de vassalagem a Olorum” etc. [12]

De alguns desses títulos, selecionamos, como exemplo de abordagens, e sem maiores comentários, alguns trechos:

África... misteriosa África/ Magia, no rufar dos tambores se fez reinar/ Raiz que se alastrou por este imenso Brasil/ Terra dos santos que ela não viu... (“Os santos que a África não viu”, Grande Rio, 1996 – Mais Velho, Rocco Filho, Roxidiê, Helinho 107, Marquinhos e Pipoca); África encanto e magia/ Berço da sabedoria/ Razão do meu cantar/ Nasceu a liberdade a ferro e fogo/ A Mãe Negra abriu o jogo/ Fez o povo delirar... (“Quando o samba era samba”, Portela, 1996 – Wilson Cruz, Cláudio Russo, Zé Luiz); Vem a lua de Luanda/ Para iluminar a rua/ Nossa sede é nossa sede/ De que o apartheid se destrua... (“Kizomba, festa da raça”, Vila Isabel, 1988 – Rodolfo, Jonas e Luiz Carlos da Vila); Vivia no litoral africano/ Uma régia tribo ordeira/ Cujo rei era símbolo/ De uma terra laboriosa e hospitaleira/ Um dia essa tranquilidade sucumbiu/ Quando os portugueses invadiram/ capturando homens/ para fazê-los escravos no Brasil/ na viagem agonizante/ Houve gritos alucinantes/ Lamentos de dor/ Ô ô ô, adeus baobá, ô ô ô/ Ô ô ô, adeus meu Bengo, eu já vou... (“Chico Rei”, Salgueiro, 1965 – Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Binha); Ilu Aiê, Ilu Aiê, odara! / Negro cantava na nação nagô/ Depois chorou lamento de senzala/ Tão longe estava de sua Ilu Aiê... (“Ilu Aiê, terra da vida”, Portela, 1972 – Cabana e Norival Reis); Bailou no ar/ O ecoar de um canto de alegria/ Três princesas africanas/ Na sagrada Bahia/ Ia Kalá, Iá Adetá, Iá Nassó/ Cantaram assim a tradição nagô/ Olorum, senhor do infinito/ Ordena que Obatalá/ faça a criação do mundo/ ele partir, despreando bará/ E no caminho adormecendo/ Se perdeu/ Odudua, a divina senhora chegou... (“A criação do mundo segundo a tradição nagô”, Beija-Flor, 1978 – Neguinho da Beija-Flor, Mazinho e Gilson); Conta a lenda que a deusa Oiá/ Foi aconselhar Ifá/ A buscar a cura em Sabadã/ Pra Obaluaiê se levantar... (“O bailar dos ventos, relampejou mas não choveu”, Salgueiro, 1980 – Ala dos Compositores); Lá da África distante/ Trouxeram o misticismo da magia/ maçons e mestres alufás/ Usavam estratégia e ousadia... (“Salamaleikun, a epopéia dos insubmissos malês”, Unidos da Tijuca, 1984 – Carlinhos Melodia, Jorge Moreira e Nogueirinha); Esta negra caprichosa/ Convidou o rei da Costa do Marfim/ E o recebeu de forma suntuosa/ A festa parecia não ter fim... (“O rei da Costa do Marfim visita Xica da Silva em Diamantina”, Imperatriz, 1983 – Matias de Freitas, Carlinhos Boemia e Nelson Lima); Lua alta/ Som contante/ Ressoam os atabaques/ lembrando a África distante... (“Misticismo da África ao Brasil”, Império da Tijuca, 1971 – Marinho da Muda).

Sobre a predominância, nesses sambas, de temas ligados ao universo iorubano, observe-se que isso ocorre pela maior visibilidade que essa matriz tem no Brasil, notadamente através da Bahia. A Bahia, graças principalmente à sua capital, é internacionalmente conhecida pela riqueza de suas tradições africanas, apropriadas como verdadeiros símbolos nacionais brasileiros. Segundo algumas interpretações, a visibilização desse precioso acervo cultural teria ocorrido pela presença histórica, em Salvador e no Recôncavo Baiano, de diversas “nações” africanas organizadas, e muitas vezes adversárias, cada uma ciosa de sua identidade étnica. E isto teria feito com que, lá, no combate ao racismo, os afro-descendentes se destacassem mais fortemente através da afirmação de suas expressões culturais específicas do que através da luta política, como em São Paulo, por exemplo. Entretanto, veja-se que personagens como Chico Rei, Ganga Zumba, Zumbi e Rainha Jinga, pertencentes ao universo banto, são também bastante freqüentes nos enredos que relacionamos.

A África distante, cada vez mais

A presença africana na música brasileira, pelo menos em referências expressas, vai se tornando cada vez mais rarefeita. Aparece, via Jamaica, no carnaval dos blocos afro baianos e nos sambas-enredo das escolas cariocas e paulistanas – especialmente nas homenagens a divindades. Mas nada de modo tão intenso como ocorre na música que se faz em Cuba e em outros países do Caribe.

Mesmo com a explosão comercial da chamada salsa, a partir de Porto Rico e via Miami, na música afro-caribenha de hoje é raro um disco que não contenha pelo menos uma cantiga inspirada em temas da religiosidade africana e interpretada com fervor apaixonado. Tito Puente, Mongo Santamaría, Célia Cruz, Rubén Bladez e muitos outros são exemplos fortes, o mesmo não acontecendo no Brasil, pelo menos na música mais largamente consumida.

No Brasil, o samba, a partir da década de 1990, apesar da voga inicial de grupos cujos nomes, mas só os nomes, evocavam a ancestralidade africana (Raça Negra, Negritude Júnior, Suingue da Cor, Os Morenos etc.), entendemos que foi se transformando em um produto cada vez mais fútil e imediatista para se preocupar com etnicidade. E isto talvez por conta do conjunto de estratégias de desqualificação que ainda hoje sustentam as bases do racismo antinegro no Brasil. É esse racismo que, no nosso entender, vai cada vez mais separando coisas indissociáveis, como o samba e a macumba, a ginga e a mandinga, a música religiosa e a música profana, desafricanizando, enfim, a música popular brasileira. Ou “africanizando-a” só na aparência, ao sabor de modas globalizantes made in Jamaica ou Bronx.

Desafricanização, como sabemos, é o processo por meio do qual se tira ou procura tirar de um tema ou de um indivíduo os conteúdos que o identificam como de origem africana. À época do escravismo, a principal estratégia dos dominadores nas Américas era fazer com que os cativos esquecessem o mais rapidamente sua condição de africanos e assumissem a de “negros”, marca de subalternidade. Isto para prevenir o banzo e o desejo de rebelião ou fuga, reações freqüentes, posto que antagônicas.

O processo de desafricanização começava ainda no continente de origem, com conversões forçadas ao cristianismo, antes do embarque. Depois, vinha a adoção compulsória do nome cristão, seguido do sobrenome do dono o que representava, para o africano, verdadeira e trágica amputação. Então, vinham as distinções clássicas entre “da costa” e “crioulo”, entre “boçal” e “ladino”.

Acreditamos que a música popular brasileira, de raízes tão acentuadamente africanas, seja vítima de um processo de desafricanização ainda em curso. Senão, vejamos. Quando a bossa-nova resolveu simplificar a complexa polirritmia do samba e restringir sua percussão ao estritamente necessário, não estaria embutido nesse gesto, tido apenas como estético, uma intenção desafricanizadora? E quando a indústria fonográfica procura modernizar os ritmos afro-nordestinos (de maracatu para mangue-beat, por exemplo), não estará querendo fazer deles menos “boçais” e mais “ladinos”, pela absorção de conteúdos do pop internacional?

Pois esse pop milionário, sem pátria e sem identidade palpável (mesmo quando pretende ser “étnico”), é exatamente aquela parte da música dos negros americanos que a indústria do entretenimento desafricanizou.


Notas:

1 GUIMARÃES, Francisco (Vaga-lume). Na roda do samba. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.

2 ALVARENGA, Oneyda. Música popular brasileira. Rio de Janeiro: Globo, 1950.

3 SARMENTO, Alfredo. Os sertões d’África. Lisboa: Ed. Francisco Artur da Silva, 1880.

4 AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

5 REIS, João José. Aprender a raça. Veja, São Paulo, Abril Cultural, 1993, p. 189-195.

6 RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1932.

7 JOÃO DO RIO. As religiões do Rio. Rio de Janeiro: Gazeta de Notícias, 1904.

8 Interpretado em espetáculo que cumpriu temporada na Sala Funarte, no Rio de Janeiro, em 1980.

9 Título de grande importância no mundo dos sambistas, conferido aos mais talentosos e representativos.

10 Pseudônimo de Otávio Henrique de Oliveira (1919-1983), cantor popular brasileiro.

11 SILVA, Ornato José da. Culto omoloko. Rio de Janeiro: Rabaço, s/d.

12 Cf. Memória do carnaval. Rio de Janeiro: Riotur, 1991, onde pode ser encontrada uma extensa listagem de sambas-enredo com motivos africanos.


* Nei Lopes: Compositor, cantor e pesquisador de música popular, gravou, entre outros discos, o CD Partido ao cubo. Fina Flor/Rob Digital, 2004. Escritor, tem vários livros publicados, entre os quais Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro/Sumus, 2004.

May 05, 2008

V Colóquio Internacional Trabalho Forçado Africano Brasil, 120 anos da abolição

Notícia enviada pelo leitor Marcelo Malloni, Salvador BA.


V Colóquio Internacional Trabalho Forçado Africano Brasil, 120 anos da abolição
(05/05/2008 - 14:57)

Salvador-BA
03 a 05 de novembro de 2008

Em 2008, a abolição da escravatura no Brasil completa 120 anos. Como se sabe, o Brasil foi o último país nas Américas a extinguir a escravidão, evidenciando a importância desta instituição nas ex-colônias portuguesas. Com o objetivo de fomentar e consolidar as redes de investigação neste campo, garantindo formas de difusão do conhecimento já produzido a esse respeito, a Secretaria de Cultura, através da Fundação Pedro Calmon, em parceria com o CEAUP, com o Programa de Pós Graduação em História da UFBA, o Programa de Pós Graduação em História da UEFS e a Pró Reitoria de Extensão da UNEB realizarão no período de 3 a 5 de novembro de 2008, a primeira edição no país do Colóquio Trabalho Forçado Africano.

O Colóquio Trabalho Forçado Africano que o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP) vem organizando desde 2004, visa a promoção do diálogo entre pesquisadores e a divulgação para o público em geral das modalidades do trabalho forçado africano, desde o século XVI até a atualidade.

Mais informações e programação:http://www.fpc.ba.gov.br/coloquio.asp

Concurso Estátua Zumbi dos Palmares (vencedores)

Artistas de São Carlos, Salvador e Belo Horizonte venceram o concurso

O Concurso Estátua Zumbi dos Palmares mostrou um caráter nacional. A estátua de Zumbi dos Palmares que ficará na praça da Sé, em Salvador, é criação de um artista de São Carlos, SP. Dos 18 projetos enviados à Fundação Cultural Palmares, o do artista Gustavo César Ribeiro foi o vencedor do concurso, com 242 pontos e receberá o prêmio de R$ 45 mil. O segundo colocado foi o projeto de Cássio Luiz Ribeiro Silva, de Salvador, BA, que receberá R$ 10 mil. Leonardo Leal Santana, artista de Belo Horizonte, MG, fez a terceira obra mais pontuada e receberá R$ 5 mil.

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Os três primeiros colocados
(primeiro lugar no centro, segundo à direita e terceiro à esquerda)

A comissão julgadora chegou ao resultado na última sexta-feira (25), depois de dois dias analisando cada protótipo das estátuas. Os projetos foram enviados de vários estados do país, como São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Maranhão, Santa Catarina, Goiás, Paraná, Pernambuco e Espírito Santo. Os critérios de julgamento foram a adequação ao espaço da praça, exeqüibilidade e viabilidade da tecnologia e materiais, qualidade estética e apelo simbólico compatível com o vulto histórico de Zumbi dos Palmares.

A originalidade, o movimento e a forma fugindo do convencional foram algumas qualidades da obra vencedora apontadas pela comissão. Os jurados foram surpreendidos com o nível dos projetos. "Fiquei satisfeito. Achei que o nível da entrega dos artistas foi ótimo", disse o diretor do Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN), Ademir Ferreira. "A escolha, felizmente, acabou contemplando a nacionalidade do concurso", observou o presidente da comissão julgadora e artista plástico Nelson Inocêncio.

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A Comissão Julgadora, a representante da FCP em Salvador, Luciana Mota, e o diretor da FCP, Antônio Pompêo seguram a estátua vencedora

O Vencedor


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Gustavo César Ribeiro tem 33 anos e desde os 16 anos de idade começou a trabalhar com artes plásticas, como ilustrador em uma indústria gráfica de cartões de Natal, em São Paulo. Mudou-se para São Carlos, onde mora até hoje, para cursar Arquitetura, na Universidade de São Paulo. Durante os estudos, aprofundou-se em escultura.

Por ser umbandista e capoeirista, visita freqüentemente o Portal Palmares e ficou sabendo do Concurso Estátua Zumbi dos Palmares. "Eu me interessei por achar o personagem Zumbi dos Palmares muito importante", conta Gustavo. O artista já ganhou um prêmio do Instituto de Arquitetura do Brasil, por ser co-autor do projeto de um monumento, que será construído em frente à prefeitura de São Carlos.

Há cinco anos trabalhando com artes plásticas, o artista ficou feliz por ter ganhado o Concurso Estátua Zumbi dos Palmares. "Saber que ganhei o concurso é muito legal, pois a estátua vai ficar em Salvador. É muito importante para a história do Brasil e para minha carreira também", disse Gustavo. O artista atribui a sua inspiração e o seu conhecimento artístico à espiritualidade umbandista e ao exercício da capoeira, visível no movimento de sua obra.



Fonte: Fundação Palmares

May 03, 2008

Universidades Públicas recebem 2 milhões de reais para investirem em educação sobre cultura e história afro-brasileira

Dois milhões de reais foram liberados, na última quarta-feira (30), pelo Ministério da Educação para serem investidos no Programa de Ações Afirmativas para a População Negra nas Instituições Federais e Estaduais de Educação Superior (Uniafro).

De acordo com a Resolução nº 14/2008 do MEC, publicada no Diário Oficial desta terça, a finalidade é promover o estudo da História da África e Cultura Afro-brasileira com o objetivo de contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias do racismo por meio da aplicação de práticas pedagógicas qualificadas nesses temas nas escolas de Educação Básica no Brasil.

O presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, considera importante a liberação desse recurso, pois "proporcionará duas questões fundamentais: a qualificação de professores para a implementação da Lei 10.639/2003 e, segundo, a produção de publicações, escritas ou audiovisuais para que a educação brasileira seja diversa, plural e democrática, e o acesso a ela possa se dar sem barreiras". Para ele, o Ministério da Educação está de parabéns, principalmente, a Secretaria de Educação Continuada.

No entanto, a Resolução estabelece que somente instituições federais e estaduais de educação superior dotadas de Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) ou grupos correlatos é que serão capazes de solicitar recursos para a formação inicial e continuada de professores e elaboração de material didático.

A lei nº 10.6389/2003 estabelece a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, incluindo no conteúdo programático o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. A lei incluiu também, o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.

Ministro Gilberto Gil inaugura Ponto de Cultura na Comunidade de Curiaú

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Em uma visita inédita no estado do Amapá, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, inaugurou um Ponto de Cultura na Comunidade de Remanescentes do Quilombo de Curiaú. A solenidade foi realizada nesta última semana. Na ocasião, o ministro Gil afirmou que o Ministério da Cultura levará seus recursos cada vez mais para as comunidades distantes e carentes.

"Nós encontramos nessa região um dos braços mais importantes da vida cultural do Brasil. Achamos uma cultura viva, dinâmica, feita e compartilhada por todos. É obrigação do Ministério da Cultura propagar essa cultura para todas as regiões brasileiras", ressaltou.

O governador interino do Amapá, Pedro Paulo Dias, disse que a comunidade é um dos elementos mais representativos da diversidade cultural amapaense. "Nosso estado vive um grande momento, com significativos avanços nos seus mais variados setores, entre eles o cultural. Grande parte desse sucesso deve-se à união de forças na busca de transformar nossos sonhos em realidade."

"O Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura estimula a criatividade, potencializando desejos e criando um ambiente propício ao resgate da cidadania pelo reconhecimento da importância da Cultura produzida em nosso Quilombo", enfatizou a presidente da Associação dos Moradores do Quilombo do Curiaú, Josineide Araújo. Na sua opinião, a implantação do Ponto de Cultura assumirá a cultura local e a cidadania, incentivando, preservando e promovendo a diversidade cultural do Quilombo de Curiaú e demais quilombos situados no estado.

Para o presidente do Conselho das Comunidades Afro-descendentes do Estado do Amapá, José Araújo Paixão, o reconhecimento das comunidades remanescentes de quilombolas propiciará condições para que seja implantada política pública de inclusão cultural e social. "Com a inauguração desse Ponto de Cultura podemos demonstrar a força do poder público de preservar a diversidade cultural", declarou.

Coletiva à Imprensa

Após a inauguração, o ministro da Cultura reuniu-se com cerca de 15 representantes de lideranças quilombolas na sede do Conselho das Associações de Moradores das Comunidades Afro-descendentes do Estado do Amapá, onde foi concedida entrevista à imprensa.

Durante a coletiva, Gilberto Gil afirmou que o Programa Mais Cultura ajudará o Amapá a se projetar nacionalmente. "A finalidade imediata do Mais Cultura é levar programas e projetos aos locais mais distantes. Por exemplo, instalar bibliotecas nos municípios que ainda não tenham esse equipamento, instalar mais Pontos de Cultura."

O ministro Gil também explicou que o ministro Mangabeira Unger vem tentando trazer uma nova dimensão de desenvolvimento para a Amazônia, "uma nova dimensão para o fortalecimento do empreendedorismo local, capacitação da Amazônia para compartilhar novas tecnologias, novos modelos de negócios. Tudo isso deverá, na medida em que seja devidamente implantado na Amazônia, impactar o fator cultural na região e no Brasil". E completou afirmando que "isso é um trabalho para uma sucessão de governo. Como o professor Mangabeira costuma dizer: é preciso ter marcos e processos iniciais que antecipem e que sejam uma prestação, paga agora, desse futuro amazônico no Brasil e desse futuro brasileiro na Amazônia".

Conselho - Há cinco anos, o Conselho das Associações de Moradores das Comunidades Afro-descendentes do Estado do Amapá atua em 32 comunidades quilombolas, com ações de apoio para o fomento de projetos de geração de renda e para demarcação e regularização de terras de comunidades remanescentes de quilombos no estado. A Fundação Cultural Palmares - instituição vinculada ao MinC que promove o reconhecimento das terras ocupadas por remanescentes de quilombos - já emitiu 11 certidões de reconhecimento desses grupos sociais no estado.


Fonte: Interjornal

Homenagem - Milton Santos (03/05/1926 a 24/06/2001) - (com vídeo)

Eu, sendo Geógrafa e professora de Geografia por formação meu lado "Geografia" falou mais alto e não pude deixar de prestar esta homenagem ao melhor!!!! Milton Santos.(Para mim) O maior e melhor geógrafo de todos os tempos!!
Daniella Larangeira

Milton Santos, este grande brasileiro, morreu em São Paulo-SP, no dia 24 de Junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer. Se estivesse vivo, estaria fazendo hoje 82 anos.

Atenção: links dos vídeos da entrevista ao Programa Roda Viva (final do texto)

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por Cláudio Cordovil

O Prof. Dr. Milton Santos (Milton de Almeida Santos ou Milton Almeida dos Santos), nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, no dia 03 de Maio de 1926. Geógrafo e livre pensador brasileiro, homem amoroso, afável, fino, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias atuais, é pensar, coragem que sempre teve. Doutor honoris causa em vários países, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 ( o prêmio Nobel da geografia), professor em diversos países (em função do exílio político causado pela ditadura de 1964), autor de cerca de 40 livros e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entre outros.

O Prof. Milton Santos formou-se em Direito no ano de 1948, pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), foi professor em Ilhéus e Salvador, autor de livros, que surpreenderam os geógrafos brasileiros e de todo o mundo, pela originalidade e audácia: "O Povoamento da Bahia" (48), "O Futuro da Geografia" (53), "Zona do Cacau" (55) entre muitos outros. Em 1958, já voltava da Universidade de Estrasburgo, da França, com o doutorado em Geografia, trabalhou no jornal "A Tarde" e na CPE (Comissão de Planejamento Econômico-BA), precursora da Sudene, foi preso em 1964 e exilado. Passou o período entre 1964 a 1977 ensinando na França, Estados Unidos, Canadá, Peru, Venezuela, Tânzania; escrevendo e lutando por suas idéias. Foi o único brasileiro e receber um "prêmio Nobel", o Vautrin Lud, que é como um Nobel de Geografia. Outras de suas magistrais obras são: "Por Uma Outra Globalização" e "Território e Sociedade no Século XXI" (editora Record).

Um momento de vida inteligente na televisão brasileira. A entrevista do geógrafo Milton Almeida dos Santos, exibida anos atrás no programa Roda Viva (uma produção da TV Cultura, retransmitida pela TVE), revelou a milhares de telespectadores o vigor do pensamento de um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. Professor titular da USP e considerado por seus pares um dos mais conceituados geógrafos vivos do mundo, Milton Santos quase se compara ao intelectual americano Noam Chomsky, em termos de radicalidade de sua original reflexão de resistência em tempos de "pensamento único". Com 12 títulos de doutor honoris causa de respeitadas universidades estrangeiras, esse baiano afável é um escritor prolífico, com mais de 40 livros publicados. Homem que sempre cultivou mais discípulos do que parceiros, pelo grosso calibre de suas denúncias da cooptação de intelectuais que emudecem diante das tentações do mercado e dos riscos da globalização. Milton Santos foi o único estudioso fora do mundo anglo-saxão a receber o que pode ser considerado o Nobel da Geografia pelo conjunto de sua obra o prêmio Vantrin Lud. Durante a exibição de sua entrevista no Roda Viva, os telefones do programa não pararam de tocar. "Muitas pessoas ligaram emocionadas e entusiasmadas, vibrando e agradecendo a emissora pela transmissão. O teor das declarações do público se assemelhou ao verificado com a entrevista de Noam Chomsky", comenta Marco Nascimento, diretor de jornalismo da TV Cultura.

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MILTON SANTOS: POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO - A DE TODOS
Prof. Dr. Délio Mendes

Para o mundo intelectual brasileiro entrou em encantamento um dos seus principais pensadores. E se encantou em plena produção, no seu momento mais fértil. Produzia uma crítica à globalização considerando que a mesma tem sido levada a efeito do ponto de vista do capital financeiro. Propunha uma outra globalização. Intelectual estudioso do espaço e do tempo, compreendeu, em seu tempo, o espaço como produção do homem na relação com a totalidade da natureza e a intermediação da técnica. Técnica que corresponde a um tempo determinado pela produção dos homens. Homem do seu tempo, Milton Santos se fez presente em todos os grandes embates intelectuais da última metade do século passado. O seu tempo e o seu espaço foram o tempo e o espaço da globalização. Que ele queria que fosse outra. Ou melhor, a outra, a globalização de todos os excluídos, resgatados em uma sinfonia de humanização. Milton se fez maestro da paz e da felicidade. Felicidade de todos. Buscou uma globalização que unisse todas as mulheres e todos os homens, sob égide do encontro.

Conheci Milton, no Recife, em 1978, quando estava às voltas com Pobreza urbana. Inovava ao compreender o mundo formal e informal, como duas faces de um circuito comandado desde a acumulação ampliada do capital. Inovava e agitava. Milton era, sobretudo, um agitador. Agitador de idéias, no melhor sentido de um intelectual da sua estatura. Avesso aos partidarismos, falava da isenção do intelectual para exercitar a crítica. Por isso, sempre esteve radicalmente ao lado do seu povo. Em Pobreza urbana se faz crítico de um debate sobre a desigualdade que se presta, mais e muito mais, à louvação mesquinha de intelectuais vazios entre si, do que a colocação correta e crítica dos grandes problemas da exclusão. “Indubitavelmente, o tom de certos trabalhos, nos quais o jogo conhecido das referências recíprocas entre autores "freqüentemente substitui uma análise dos fatos, tem contribuído para a perpetuação do debate, que, embora pretenda atacar o problema em profundidade, perde-se numa guerrilha semântica confusa.” Esta crítica direta acompanha uma análise da produção intelectual da pobreza que, segundo Milton, pouco tinha contribuído para a resolução dos problemas da pobreza. Para este jogo de vaidades não se contava com a sua participação.

A história do homem, compreendida como a história da superação, faz do autor de Pobreza urbana, um profeta da evolução. “A história do homem sobre a terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para poder dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na história da natureza humana. Hoje, com a tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução.” A visão da técnica, do espaço e do tempo, assume, nesta compreensão, um caráter inovador, na medida em que passa a apreender a dimensão da história, da história de temporalidades técnicas que permite produzir uma sociedade determinada, empregando, de acordo com a técnica predominante, uma certa quantidade de trabalho humano. Milton abre o conceito de território, mostrando-o como o lugar do drama social “Bom, há nessa desordem a oportunidade intelectual de nos deixar ver como o território revela o drama da nação, porque ele é, eu creio, muito mais visível através do território do que por intermédio de qualquer outra instância da sociedade. A minha impressão é que o território, revela as contradições muito mais fortemente.” Da relação técnica, espaço e tempo, revela-se a história, ou melhor, uma outra história, no palco iluminado expresso no território. Esta outra história aponta para as desigualdades. Faz emergir a exclusão da maioria da população concentrada em um território degradado, onde pobres de todas as naturezas lutam contra todos os carecimentos.

Milton se mostra mais crítico no livro recente Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal, onde nos aponta para um mundo de difícil percepção por conta da confusão reinante que nos tem levado à perplexidade. Portanto, toma para análise a realidade relacional do ser humano, e a esta realidade relacional perversa atribui os males revelados pelo território. Não aceita explicações mecanicistas pelo seu caráter insuficiente. Atribuindo ao desenrolar da história, capitaneada por determinados segmentos da sociedade, os males que tornam difícil a vida da maioria das mulheres e dos homens. Coloca na base deste processo confuso a tirania do dinheiro e da informação, transcende a Marx, e o dinheiro passa a produzir dinheiro, dominando o mundo da produção de mercadorias. Especulação, financeirização. A globalização é feita menor, sob a égide dos bancos e dos banqueiros, criando uma fábrica de perversidades. “O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes.”

Caminhando no terreno da mais valia global, Por uma outra globalização apreende o papel dos intelectuais. Todos trabalhando a ampliação desta mais valia. Trabalhando para ampliar a produtividade como se este fosse um trabalho abstrato, e não a produção de urna vantagem para o capital. É preciso reconhecer este momento e a sua peculiaridade. A de ser um momento para o capital. E todas as ações movem-se na direção do reproduzir para os ricos. Entretanto, se esta é uma constatação, não é, felizmente, uma fatalidade. Milton nos aponta para um outro conhecimento. Para a possibilidade de conhecer, para a liberdade do ser humano. Para modificar o mundo. Para que o conhecimento se produza no interior da crítica, sem abstrações alienantes, sem reconhecimentos incompletos que produzem falsas compreensões e encobrem os verdadeiros dramas sociais. E assim, pode-se evitar a espera para que cresça o bolo, evitando a indigência de uma quantidade grande de seres humanos.

É o início de uma outra cognoscibilidade do planeta. Um planeta que conta com todas as possibilidades de ser desvendado. Mas, nem sempre o conhecer é possível. A informação nem sempre se propõe a informar, e sim a convencer acerca das possibilidades e das vantagens das mercadorias. "O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde.” A contradição se faz e se refaz na impossibilidade de se produzir, de imediato, uma informação libertadora. A alienação é a face que brota aguda da globalização financeira, da globalização do dinheiro. Encanta-se o mundo. O princípio e o fim são o discurso e a retórica. Então o que fica para o ser comum é a farsa do consumo. Não há referência à transformação do espaço e do tempo. O homem consumidor caminha no espaço do desconhecimento do mundo relacional e do falso e alardeado conhecimento do mundo das mercadorias. O fetiche, como e desde sempre, se realiza no ocultamento do valor de troca e no falso evidenciamento do valor de uso. É a utilidade que aparece, e que é proclamada em todo o universo informacional. Fala-se ao peito sangrando das mulheres e homens que não são consumidores. Para a competitividade, tem-se de chamar os consumidores, tem-se que oferecer o melhor, o mais barato, produzido desde a produtividade aumentada pelo trabalho dos intelectuais. Tudo para melhorar a competitividade.

Para Milton, a competitividade é ausência de compaixão. Tem a guerra como norma, e privilegia sempre os mais fortes em detrimento dos mais fracos. Busca fôlego na economia e despreza os que pensam mais para além. "Para tudo isso, também contribuiu a perda da influência da filosofia na formulação das ciências sociais, cuja interdisciplinaridade acaba por buscar inspiração na economia.” Esta é uma das mais importantes reflexões levadas a efeito no interior de Por uma outra, na medida em que coloca um ponto focal que não é localizado costumeiramente no campo da ideologia. Cientistas sociais dos mais diferentes matizes sucumbem aos encantos da facilidade dos números e do falso realismo de uma formulação econômica ideologizada, que esquece os seres humanos e os substitui pelas equações e as tabelas estatísticas que ilusionam os dirigentes e metem medo a todos os que não querem padecer no inferno apontado pelos proclamadores da nova única. Se não aceitas as premissas e as evidências das projeções estatísticas da nova única, serás responsável pelo caos que há de vir.

Empobrece a ciência social em geral, nada para além da numerologia estatística. Investir nos setores sociais acarreta um custo que o capital não se propõe a pagar, e a ciência se curva, entra em letargia, deixa o mundo nas mãos dos economistas que vão levá-lo adiante de mãos com a lógica da relação produto capital e da competitividade. A ciência humana se faz pobre para interpretar um mundo confuso e conturbado e, desde logo, tudo a ciência econômica. Este enfoque modernoso atinge por caminhos nunca dantes navegados a maioria das falas e dos discursos. Grandes farsas são inventadas e reinventadas. O privilégio continua privilegiando o privilegiado. "Os atores mais poderosos se reservam os melhores pedaços do território.” Inclusive do território do pensar para impedir o pensar. Apoderam-se das mentes e dos corações e, por conseqüência, das vidas no pleno movimento da vivência. Tudo isto no mundo da competitividade. A competitividade revela a essência do território, os lugares apontam para as lutas sociais, trazendo a tona virtudes e fraquezas dos atores da vida política e da sociedade.

A cidadania se torna menor do que sua percepção. O cidadão pretende transcender o seu espaço primitivo. Todavia, o mundo, expresso desigualmente, não tem como regular os lugares em suas diversidades e, por conseqüência, a cidadania se faz menor. A desigualdade aponta a impossibilidade da generalização da cidadania. O espaço é esquizofrênico na expressão da exclusão social. Uns homens sentem-se mais cidadãos do que outros. Mas estes homens são apenas consumidores, pois a cidadania depende de sua generalização. Não existem cidadãos num mundo apartado. Não se é cidadão em um espaço onde todos não o são. São consumidores os que expressam direitos e deveres no âmbito do mercado e não no âmbito do espaço público, onde a política é realizada e o poder distribuído. Portanto, este é um mundo de alguns consumidores e poucos, pouquíssimos cidadãos. É preciso construir a cidadania.

A transição (conclusão)

O novo nasce sem que se perceba. Quase na sombra, o mundo muda de maneira imperceptível, todavia constante. Neste início de século, temos a consciência de que estamos vivendo uma nova realidade. As transformações atuais colocam os homens em permanente estado de perplexidade. A poluição e a desertificação se alastram, a super população e as tecno-epidemias etc., tornam o mundo diverso negativamente. A pobreza e a desigualdade, são produtos desta forma da produção do modo civilizatório capitalista. Este novo apresenta diferentes faces. Tudo isto como conseqüência da desestruturação da ordem industrial. O atual período histórico não é apenas a continuação do capitalismo ocidental, é mais. Melhor, é muito mais, é a transição para uma nova civilização. Esta transição que está em curso é preocupante para determinadas sociedades, desprotegidas na guerra das nações pela primazia na história.

Milton chama atenção para esta realidade. "No caso do mundo atual, temos a consciência de viver um novo período, mas o novo que mais facilmente apreende-se diz respeito à utilização de formidáveis recursos da técnica e da ciência pelas novas formas do grande capital, apoiado por formas institucionais igualmente novas. Não se pode dizer que a globalização seja, semelhante às ondas anteriores, nem mesmo uma continuação do que havia antes, exatamente porque as condições de sua realização mudaram radicalmente. É somente agora que a humanidade está podendo contar com essa nova realidade técnica, providenciada pelo que se está chamando de técnica informacional. Chegamos a um outro século e o homem, por meio dos avanços da ciência, produz um sistema de técnicas da informação. Estas passam a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando a presença planetária desse novo sistema técnico."

É necessário, para compreender esse novo, o conhecimento de dois elementos fundamentais na formação social das nações: a formação técnica e a formação política. Uma permite a compreensão dos elementos tecnológicos que formam as composições necessárias à produção, e a outra indica que setores serão privilegiados com a organização possível da produção. “Na prática social, sistemas técnicos e sistemas políticos se confundem e é por meio das combinações então possíveis e da escolha dos momentos e lugares de seu uso que a história e a geografia se fazem e refazem continuamente.” Desde esta compreensão, esta nova sociedade pode, inclusive, abrir uma nova época com a colocação de um novo paradigma social. Este paradigma pode ser posto como: a superação da nação ativa pela nação passiva.

Ou melhor, voltando ao velho Marx: a nação em si é superada pela nação para si. Para isto, é necessário que o velho/novo mundo periférico retome um projeto político de independência, fora dos moldes de projetos como o Mercosul, que nada mais representam do que a dependência em bloco, na medida em que este tipo de associação só serve à subserviência coletiva, levando grupos de países periféricos a deixar de submeterem-se isoladamente, para cair em bloco nos ardis do capital financeiro.

Finalmente, utilizando a dialética como referência, Milton mostra a batalha travada entre a nação passiva e a nação ativa, em uma transição política que envolve todos os espaços do viver, desde o espaço da vida cotidiana. A nação ativa, ligada aos interesses da globalização perversa, nada cria, nada contribui para a formação do mundo da felicidade, ao contrário da outra nação dita passiva que, a cada momento, cria e recria, em condições adversas, o novo jeito de produzir o espaço social, mostrando que a atual forma de globalização não é irreversível e a utopia é pertinente. ” É somente a partir dessa constatação, fundada na história real do nosso tempo, que se torna possível retomar, de maneira concreta, a idéia de utopia e de projeto.” Desde esta compreensão, a globalização é um projeto irreversível da humanidade. Entretanto, não é esta a globalização desejada, e sim uma outra, a de todos.

Délio Mendes é Professor Dr. do Departamento de Sociologia da Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP

Texto publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, originalmente publicado na Revista Política Democrática, Brasília, Ano 1, n.2, p.191-197, 2001

Atenção: links dos vídeos da entrevista ao Programa Roda Viva abaixo (You Tube).. vale a pena assistir.....

http://www.youtube.com/watch?v=q-bqDcU6X1w (parte 1)
http://www.youtube.com/watch?v=Inp61wq2X_A&feature=related (parte 2)
http://www.youtube.com/watch?v=DCh2uyuI-ec&feature=related (parte 3)
http://www.youtube.com/watch?v=CAKGmK5kc6E&feature=related (parte 4)
http://www.youtube.com/watch?v=EKvErDINhtQ&feature=related (parte 5)