PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

Objetivos: - A contribuição do negro na formação social brasileira - A discriminação racial no Brasil. Movimentos de resistência de negros pela cidadania e pela vida; - Políticas sociais e população negra: trabalho, saúde, educação e moradia; - Relações étnico-raciais, multiculturalismo e currículo; - Aspectos normativos da educação de afro-brasileiros. - EMAIL PARA CONTATO: negrosenegras@gmail.com

January 23, 2007

Fórum discute importância da cultura africana e afro-brasileira

Professores e alunos da rede estadual de ensino estão convidados para o fórum Memória Viva e Ação Cultural na Escola, que acontece nos próximos dias 25 e 26, das 6h às 13h e das 14h às 18h, no auditório do Arquivo Nacional. O fórum retoma a temática da exposição Abdias Nascimento 90 Anos, que levou a história e a cultura africana e afro-brasileira a Brasília, Salvador e Rio de Janeiro.
A exposição detalhou a trajetória do ativista negro Abdias Nascimento, intelectual e defensor da igualdade para as populações afrodescentes no Brasil. Poeta, ator, escultor e político, Abdias foi deputado federal e senador e, entre outras ações, criou o Movimento Negro Unificado e o Teatro Experimental do Negro.
Com este novo projeto, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) e a Fundação Cultural Palmares pretendem ampliar o debate sobre a implementação da Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro nas escolas.

Para o fórum foram produzidos dois catálogos, três vídeos e uma linha do tempo dos povos africanos, com 4,5 metros e episódios importantes datados desde 4500 aC até o ano 2000. Escolas, instituições de ensino e entidades comunitárias receberão materiais para o desenvolvimento de atividades pedagógicas.

- No Brasil, a valorização da cultura afro fica reduzida à semana do dia 20 de novembro (data da morte de Zumbi dos Palmares). Precisamos criar subsídios e difundir nas escolas informações sobre o negro no Brasil – defende a diretora do Ipeafro e coordenadora do fórum Elisa Larkin Nascimento.

O Arquivo Nacional fica na antiga Casa da Moeda, na Praça da República 173, no Centro do Rio. A entrada é gratuita. Instituições que confirmarem presença com o Ipeafro terão prioridade na aquisição do material. O instituto dispõe de cem kits para distribuição. Tel.: 2509-2176.

Fonte: Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro

January 13, 2007

Silo Cultural - Paraty (Mais Fotos)

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Para visualizar mais fotos acesse o link "VEJA NOSSAS FOTOS" ao lado.

January 10, 2007

Santidades e Quilombos

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A Santidade foi o primeiro ajuntamento social, que apareceu na Bahia e em Sergipe, no século XVI, quando o território era um só. A Inquisição combateu ferozmente as Santidades, puniu muitos dos seus integrantes, mas não impediu que essa forma peculiar de organização social permanecesse, séculos seguidos. A formação comum, nos primórdios das Santidades, era índios, negros e colonos judeus ou cristãos-novos, como atestam, em 1591/92, os processos da Visitação da Bahia, tendo como Inquiridor Heitor Furtado de Mendonça. Sabe-se, pelos mesmos documentos, que as Santidades guardavam cerimônias indígenas, ritos negros, incorporando aspectos da liturgia católica.
Fernão Cabral de Taíde, cristão-velho, do Algarve (Portuga) confessou à Inquisição, por volta de 1585, que "se levantou um gentio do sertão com uma nova seita que chamavam Santidade. Nela havia um índio, denominado Tupunam, ou Deus Grande, um Papa, uma Mãe de Deus, e um Sacristão. O ídolo era de pedra, não era afigurado como homem e nem mulher, e em torno dele adoravam e rezavam. E tinham lugares construídos como igrejas, onde colocavam tábuas riscadas e exigiam reverência."
Em outro local, levantou-se uma Santidade que tinha um Deus que dizia aos acoitados que não trabalhassem, porque os mantimentos por si só haviam de nascer e que, quem não acreditasse naquela Santidade se havia de converter em paus e pedras e que a gente branca havia de converter em caça para eles comerem, e que aquela santidade era santa e boa. Domingos Fernandes Nobre, pernambucano, revelou que por volta de 1586 havia no sertão nordestino uma Santidade, tendo um gentio como Papa, uma negra, mulher do Papa e chamada Mãe de Deus, índios como santos e santas e, no altar, um ídolo que era uma figura de animal, que nem demonstrava ser homem, nem pássaro, nem peixe, nem bicho, mas era como Quimera.
Várias características das Santidades demonstram a síntese cultural realizada pelos velhos habitantes do Brasil, dos quais aflorou a sociedade brasileira, com seu caldeirão de cultura codificada, no qual se deve buscar a identidade nacional. Também nas Santidades estão os primeiros modelos de organização social, herdados, em certo sentido, pelos grupos folclóricos de folguedos e de danças. As Santidades inspiram, sem dúvida, os quilombos, ajuntamentos negros de resistência, com ingredientes místicos fortes.
Canudos é, talvez na história brasileira, a última Santidade, aperfeiçoada pela liderança de Antonio Conselheiro, modernizada pela situação política, econômica e social vigente nas últimas décadas do século XIX, quando os militares, engalanados com a vitória na guerra do Paraguai, deram o golpe de Estado que acabou com a monarquia e instituiu a república. José Calasans, o saudoso historiador sergipano, especialista em Canudos e em Conselheiro, tinha aquele episódio como um último quilombo. Na verdade, Canudos era as duas coisas, ou poderia até ser uma terceira coisa, por conta das suas singularidades. De todo modo as características das Santidades e dos Quilombos estavam presentes na gente do Conselheiro.
Outro aspecto de suma importância, tanto nas Santidades, como nos Quilombos, é o que remete ao mito medieval da Cocanha, ou seja, a abundância de gêneros, saciando a fome das pessoas dos dois tipos de ajuntamento. O ideal de justiça, de felicidade, de harmonia social era seguido da fartura de todos os alimentos, garantindo o sustento de todos, na própria terra. A Cocanha é um dos mitos mais complexos e ao mesmo tempo mais atraentes, que é encontrado em várias partes do mundo, em versões poéticas, ou em narrativas curtas.
No Brasil o mito da Cocanha é recorrente. Assim como está nas Santidades, nos Quilombos, nos eventos ligados ao mito do retorno, ou ao sebastianismo, está na literatura oral, no cordel, nas prédicas religiosas. Viagem a São Saruê, do Manoel Camilo dos Santos, é um folheto de cordel que canta o mito da Cocanha. Seus versos, quase todos, são assim:
"Lá os tijolos das casas são de cristal e marfim, as portas barras de pedras, fechaduras de rubim, as telhas folhas de ouro e o piso de cetim.
Lá eu vi rios de leite barreiras de carne assada, lagoas de mel de abelha atoleiros de coalhada, açudes de vinho do Porto montes de carne guisada.
As pedras de São Saruê são de queijo e rapadura, as cacimbas são café já coado e com quentura, de tudo assim por diante existe grande fartura."
Está no imaginário brasileiro, como repositório de formas singulares de organização social e cultural, o registro das Santidades, dos Quilombos, com todos os seus componentes lúdicos, éticos, religiosos e políticos. O mais é conferir.