PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

Objetivos: - A contribuição do negro na formação social brasileira - A discriminação racial no Brasil. Movimentos de resistência de negros pela cidadania e pela vida; - Políticas sociais e população negra: trabalho, saúde, educação e moradia; - Relações étnico-raciais, multiculturalismo e currículo; - Aspectos normativos da educação de afro-brasileiros. - EMAIL PARA CONTATO: negrosenegras@gmail.com

February 28, 2007

Projeto República do Samba valoriza cultura afro-brasileira

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A cultura afro-brasileira é a protagonista no República do Samba, um projeto do Museu da República, no Rio de Janeiro. Com palestras, exposições fotográficas e digitais, e música, o projeto promove a integração de três gerações da cultura do samba, trazendo a história dos precursores, um convidado da noite e um novo talento. Mulher Negra do Caribe e da América Latina é o próximo tema do projeto, que acontece toda primeira sexta-feira do mês, às 19h no Espaço Multimídia do Museu da República. Os convidados da noite serão Vilma Piedade, com a palestra "O retrato da mulher no samba"; o fotógrafo Jorge Ferreira, com a exposição "Beleza Pura"; e o grupo feminino de samba Negras Raízes.

Acervo afro-brasileiro:

Idealizado e produzido pelo jornalista Mauro Viana, o República do Samba é um projeto jornalístico-cultural pensado para montar um acervo afro-brasileiro. “Este acervo é fonte para publicação de livros, CDs, programas de televisão e de rádio, site, documentários”, afirma Viana. Além disso, o convite de jovens talentos das comunidades tem o objetivo de ampliar a visibilidade da cultura afro-brasileira na mídia e no mercado. “O projeto é a porta de entrada para que jovens negros ingressem no mercado”, observa Viana. O público do República do Samba é bem variado. De acordo com Viana, na platéia encontram-se pesquisadores, intelectuais, produtores culturais, militantes negros, artistas, estudantes e muitos estrangeiros. Para realizar o programa, pesquisas são feitas nas comunidades vizinhas, no Museu da República e por todo o estado.

O República do Samba, com este nome, é realizado desde 2003. Mas a sua origem vem de muito antes, pois é um desdobramento do projeto "Afro-Talk-Vídeo", que começou em 1999. O trabalho consistia em gravar depoimentos de ativistas negros. A filósofa Helena Theodoro, o teórico da comunicação Muniz Sodré, a biógrafa de Cartola, Marília Trindade Barboza, o escritor Nei Lopes e a atriz Zezé Motta já gravaram depoimentos para a série. O Afro-Talk-Vídeo é filho do primeiro programa totalmente afro-brasileiro da televisão brasileira, o "Awo-Dudu”, conta Viana. O programa era transmitido pela TV Educativa do Rio, onde, de acordo com Viana, funcionava o primeiro Núcleo de Cultura Negra da televisão brasileira. “O programa não seguiu carreira por desinteresse do departamento de marketing em fazer captação de patrocinadores”, explica o jornalista.

Mistura musical

Mas o Museu da República abraçou a idéia do projeto, que começou em 2001, com a cultura da diáspora africana como tema central. Depois, o projeto passou a focar o segmento musical, abrangendo vários ritmos, como reggae, soul, ska, zouki, samba, fado, tango, rumba, candombe, salsa. Em 2003, o público optou pelo samba e o trabalho ganhou o nome de República do Samba. Viana também é pesquisador da cultura diáspora africana e tem expandido a cultura afro-brasileira para fora do país. “Na Nova Zelândia temos uma co-produção de um documentário sobre a questão racial no Brasil. Nos Estados Unidos, estamos co-produzindo um documentário sobre os grupos de Velhas Guardas das escolas de samba do Rio de Janeiro”, conta o jornalista. Além disso, Viana disse que finalizou o roteiro de República do Samba TV, que será uma série dividida em 22 episódios temáticos.


SAIBA MAIS:

Evento: Projeto República do Samba - A Mulher Negra e o Caribe
Data: Dia 2 de março
Horário: 19h
Local: Espaço Multimídia do Museu da República, Rio de Janeiro, RJ
Segue abaixo a programação do projeto República do Samba:

2007 (programação sujeita a modificações durante o período)

2 março: A mulher negra e o Caribepalestrante: Vilma Piedade (O retrato da mulher no samba)exposição-digital fotográfica: Jorge Ferreira (Beleza Pura)artistas: grupo feminino Negras Raízes e Gigio da Mocidade, Mulheres em Ação, Mulheres em Ação (jornal), Criola e Mulheres da Baixada

13 de abril: Comunidades indígenaspalestrantes: Funasa e Museu do Índioexposição digital: Jorge Ferreira (Cacique de Ramos/2007)artistas: Partideiros do Cacique

4 de maio: Preto Velho/Dias das Mãespalestrante: Lúcia Xavier “OBASSY”exposição digital: Jorge Ferreira, com Mães de Santo – baianas (convidadas: Mãe Nitinha, Mãe Edelzuíta e Mãe Beata)artistas: Cordão do Prata Preta

1º de junho: Pan 2007/Meio Ambientepalestrantes: Vila Olímpica da Mangueira, Vila Olímpica de Belford-Roxo e Vila Olímpica da Gamboa – Xeroxexposição digital: Jorge Ferreira

6 de julho: Dança afro-portuguesapalestrantes: Sergio Castro (filosofia na educação) e Ele Semogexposição digital: Jorge Ferreira (Republica do Samba, 8 anos)artistas: Eliete Miranda e grupo de dança

7 de agosto: Pais (de Santo)palestrantes: José Marmo, Professor Beniste, Marcelo Fritz e Marcelo Monteiroexposição digital: Jorge Ferreira ("Pais de Santo")artistas: Deni de Lima, Gigio da Mocidade, Jorge Presença, Ode Omin e Preto Maneiro

14 de setembro: Primavera/Rainha da Bateriapalestrantes: Milton Cunha e Ailton Jorge Guimarães Juniorexposição digital: Jorge Ferreira ("Rainhas e Princesas")artistas: Trem da Harmonia, Buraco do Galo e Josilene da Unidos do Cabral

5 de outubro: Criançapalestrante: Sergio Castro (filosofia na educação)exposição digital: Escola de Samba Mirimartistas: Bateria Mirim da Flor de Mina e grupo Netos do Samba

9 de novembro: Zumbi dos Palmarespalestrantes: Eliane Borges e Ele Semogexposição fotográfica: Pretos Urbanosartistas: Gigio da Mocidade, Márcia Moura, Andréia Café e Tia Rosa

7 de dezembro: Retrospectiva convidada: Ana Carolina Freitas (cidadã samba/2007) palestrante: Marília Trindade Barboza exposição digital: Jorge Ferreira

Marília Matias de Oliveira, ACS/FCP/MinC

ALGUNS DOS ORIXÁS NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS III

OMULÚ

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Omulu foi salvo por Iemanjá quando sua mãe, Nanã Burucu, ao vê-lo doente, coberto de chagas, purulento, abandonou-o numa gruta perto da praia. Iemanjá recolheu Omulu e o lavou com a água do mar. O sal da água secou sua feridas. Omulu tornou-se um homem vigoroso, mas ainda carregava as cicatrizes, as marcas feias da varíola. Iemanjá confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia. E com ela ele escondia as marcas de suas doenças. Ele era um homem poderoso. Andava pelas aldeias e por onde passava deixava um rastro ora de cura, ora de saúde, ora de doença. Mas continuava sendo um homem pobre. Iemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo. Ela pensou: "Se eu dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja sempre um homem pobre". Ficou imaginando quais riquezas, poderia da a ele. Iemanjá era a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, as conchas, os corais. tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe, Olocum, e ela dera tudo a Iemanjá. Iemanjá resolveu então ver suas jóias Tinha algumas, mas enfeitava-se mesmo era com algas. Ela enfeitava-se com água do mar, vestia-se de espuma. Ela adorava-se com o reflexo de Oxu, a Lua. Mas Iemanjá tinha uma grande riqueza e essa riqueza eram as pérolas, que as ostras fabricavam para ela. Iemanjá, muito contente com sua lembrança, chamou Omulu e lhe disse: "De hoje em diante, és tu quem cuidas das pérolas do mar. Serás assim chamado de Jeholu, o Senhor das Pérolas". Por isso as pérolas pertencem a Omulu. por baixo de sua roupa de ráfia, enfeitando seu corpo marcado de chagas, Omulu ostenta colares e mais colares de pérola, belíssimos colares.

ORIXALÁ

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Orixalá vivia com Odé debaixo do pé de algodão. Odé ia para a caça e levava Odé. Eles eram grandes companheiros. Mas Odé reclamava sempre de Orixalá, que era muito lento e andava devagar. Estava muito velho o orixá do pano branco. E Orixalá reclamava de Odé Oxossi, que era muito rápido e sempre andava bem depressa. Era muito jovem o caçador. então os dois resolveram se separar. Mas Odé estava muito triste, porque fora criado por Orixalá. E Orixalá estava muito triste, porque fora ele quem criara Odé. Odé disse então a Orixalá que todo o mel que ele colhesse seria sempre dado a Orixalá e que ele mesmo nunca mais provaria uma gota, reservando tudo o que coletasse ao velho orixá. E que Orixalá sempre dele se lembrasse, quando comesse seu arroz com mel do caçador. Nunca mais Odé comeu do mel. Nunca mais Orixalá de Odé se esqueceu.

OSSAIN

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Ossaim, filho de Nanã e irmão de Oxumare, Euá e Obaluaiê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os orixás recorriam a Ossaim par curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossaim na luta contra doença. Todos iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossaim lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos de os males. Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás. Mas Ossaim negou-se a dividir suas folhas com os outros orixás. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos orixás. Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô. Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou: "Euê uassá!" "As folhas funcionam!" Ossaim ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram para Ossaim. As que já estavam em poder de Xangô perderam o axé, perderam o poder de cura. O orixá-rei, que era uma orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia permanecer através dos séculos. Ossaim, contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus ofós, que são cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossaim distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossaim não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.

OXAGUIÃ

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Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra. Ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. Gostava de guerrear e de comer. Gostava muito de uma mesa farta. Comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado. Jamais se sentava para comer se faltasse inhame. Seus jantares se estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame. Elejigbô, o rei de Ejibô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra. Oxalá então consultou os babalaôs, fez oferendas a Exu e trouxe para humanidade uma nova invenção. O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pôde se fartar e fazer todas as suas guerras. Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de "Orixá Comedor de Inhame Pilado", o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.


Fonte: Livro Mitologia dos Orixás, 2001

February 26, 2007

ALGUNS DOS ORIXÁS NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS II

NANÃ

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Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada. Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro. Apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama. Nanã deu a porção de lama a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá criou o homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou. com a ajuda dos orixás povoou a Terra. Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nanã Burucu. Nanã deu a matéria no começo mas quer de volta no final tudo o que é seu.

OBÁ

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Obá escolheu a guerra como prazer nesta vida. Enfrentava qualquer situação e assim procedeu com quase todos os orixás. Um dia, Obá desfiou para a luta Ogum, o valente guerreiro. O ardiloso Ogum, sabendo dos feitos de Obá, consultou os babalaôs. Eles aconselharam Ogum a fazer oferendas de espigas de milho e quiabos, tudo pilado, formando uma massa viscosa e escorregadia. Ogum preparou tudo como foi recomendado e depositou o ebó num canto do lugar onde lutariam. Chegada a hora, Obá, em tom desafiador, começou a dominar a luta. Ogum levou-a ao local onde estava a oferenda. Obá pisou no ebó, escorregou e caiu. Ogum aproveitou-se da queda de Obá, num lance rápido tirou-lhe os panos e a possuiu ali mesmo, tornando-se, assim, seu primeiro homem. Mais tarde Xangô roubou Obá de Ogum.

OGUM

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Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura. Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram um por um e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio. Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os outros orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os orixá, admirados, perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era de ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os orixás invejavam Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, mas como à caça e até mesmo à guerra. Por muito tempo os orixás importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si. Os orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca de que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram suas lanças de ferro. Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou com os orixás,pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da árvore de acocô e lá permaneceu. Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro, celebram a festa de Iudê-Ogum. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum. Ogum é o senhor do ferro para sempre.

Fonte: Livro Mitologia dos Orixás, 2001

February 22, 2007

ALGUNS DOS ORIXÁS NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS

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EWÁ

Euá era filha de Nanã Também filhos de Nanã eram Obaluaê, Oxumarê e Ossaim. Esses irmãos regiam o chão da Terra. A terra, o solo, o subsolo, era tudo prosperidade de Nanã e sua família. Nanã queria o melhor para seus filhos, queria que Euá casasse com alguém que a amparasse. Nanã pediu a Orunmilá bom casamento para Euá. euá era linda e carinhosa. Mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum para garantir a empreitada. Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Euá. E eram tantos os pretendentes que logo uma contenda entre eles se armou. A concorrência pela mão da princesa transformou-se em pugna incessante e mortal. Jovens se digladiavam até a morte. Vinham de muito longe, lutavam como valentes para conquistar sua beleza. Mas a cada vencedor, Euá não se decidia. Euá não aceitava o pretendente. vinham novos candidatos e outros combates. euá não conseguia decidir-se, ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se e acabar de vez com o sangramento campeonato. Tudo estava feio e triste no reino de Nanã, a terra seca, o sol quase apagara. só a morte dos noivos imperava. Euá foi então à casa de Orunmilá para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora e pôr um fim àquela mortandade. Euá fez os ebós encomendados por Ifá. Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra e, para o espanto de todos, a princesa começou a desintegrar-se. Foi desaparecendo, perdendo a forma, até evaporar-se completamente e transformar-se em densa e branca bruma. E a névoa radiante de Euá espalhou-se pela Terra. E na névoa da manhã Euá cantarolava feliz e radiante. Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma. O Supremo Deus determinou então que Euá zelasse pelos indecisos amantes, olhasse seus problemas, guiasse suas relações.

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EXÚ

Exu era o irmão mais novo de Ogum, Odé e outros orixás. Era tão turbulento e criava tanta confusão que um dia o rei, já não suportando sua malfazeja índole, resolveu castigá-lo com severidade. Para impedir que fosse aprisionado, os irmãos o aconselharam a deixar o país. Mas enquanto Exu estava no exílio, seus irmãos continuavam a receber festas e louvações. Exu não era mais lembrado, ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Então, usando mil disfarces, Exu visitava seu país, rondando, nos dias de festa, as portas dos velhos santuários. Mas ninguém o reconhecia assim disfarçado e nenhum alimento lhe era ofertado. Vingou-se ele, semeando sobre o reino toda sorte de desassossego, desgraça e confusão. Assim o rei decidiu proibir todas as atividades religiosas, até que se descobrissem as causas desses males. Então os babalorixás reuniram-se em comitiva e foram consultar um babalaô que residia nas portas da cidade. O babalaô jogou os búzios e Exu foi quem falou no jogo. Disse nos odus que tinha sido esquecido por todos. Que exigia receber sacrifícios antes dos demais e que fossem para ele os primeiros cânticos cerimoniais. O babalaô jogou os búzios e disse que oferecessem um bode e sete galos a Exu. Os babalorixás caçoaram do babalaô, não deram a menor importância às as suas recomendações e ficaram por ali sentados, cantando e rindo dele. Quando quiseram levanta-se para ir embora, estavam todos grudados nas cadeiras. Sim, era mais uma das ofensas de Exu! O babalaô então pôs a mão no ombro de cada um e todos puderam levanta-se livremente. Disse a eles que fizessem como fazia ele próprio: que o primeiro sacrifício fosse para acalmar Exu. Assim convencidos, foi o que fizeram os pais e mães de santo, naquele dia e sempre desde então.

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LOGUN EDÉ

Logum Edé era caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso. Era um caçador pretensioso e ganancioso, e muitos o bajulavam pela sua formosura. Um dia Oxalá conheceu Logum Edé e o levou para viver em sua casa sob sua proteção. Deu a ele companhia, sabedoria e compreensão. Mas Logum Edé queria muito mais, queria mais. E roubou alguns segredos de Oxalá. Segredos que Oxalá deixara à mostra, confiando na honestidade de Logum. O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô. Deu a costas a Oxalá e fugiu. Não tardou para Oxalá dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos. Oxalá fez todos os sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda vez que Logum Edé usasse um dos segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio: "Que maravilha o milagre de Oxalá!", Toda vez que usasse seus segredos alguma arte não roubada ia faltar. Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena imposta. O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação. Oxalá determinou que Logum Edé fosse homem num período e no outro depois fosse mulher. Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a floresta vivendo da caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe. Nunca haveria assim de ser completo. Começar sempre de novo era sua sina. Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho do Odé. Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logum Edé um orixá.

Fonte: Livro Mitologia dos Orixás, 2001

February 15, 2007

Eventos

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February 11, 2007

Aos pés de Xangô

De acordo com o velho e bom jeito de fazer africano, é recomendável iniciar qualquer coisa reverenciando a ancestralidade, que, no caso particular da comunidade negra, tem sido muito bem lembrada, respeitada e cuidada, graças, sobretudo, ao povo de candomblé.
Por isso, não existe uma melhor forma de saudar o 20 de Novembro - inscrito pelo movimento negro brasileiro como Dia Nacional da Consciência Negra - do que retomando a frase, célebre já entre nós, da venerável iyá fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá, a sábia Mãe Aninha Obi Biyi: "De anel no dedo aos pés de Xangô".
É muito bom poder presenciar e partilhar 311 anos depois de Zumbi dos Palmares, da disposição de pessoas negras - jovens ou nem tanto - em dirigir seus interesses e objetivos intelectuais e acadêmicos à reconstituição de nossa história; à investigação de dados sociológicos sobre as condições de vida ou sobrevivência do nosso povo; à proposição de novas formas de educar ou mesmo de edificar casas; à escritura ou reescritura etnográfica e o registro documental de nossas formas de relação com o sagrado e as artes.
Tudo isso, levando em conta o que a África e a diáspora construíram e garantiram como conhecimento e saber civilizatórios. Saber civilizatório africano que contribuiu para formar as bases da civilização universal.
É claro que muito já foi escrito sobre nós, mas é, sem dúvida, um "detalhe relevante" (como diz o poeta Limeira), quando esta produção intelectual salta das mentes e das mãos dos atores centrais das páginas da vida real do povo negro brasileiro.
Vida real que acumula déficits em relação à dignidade, reconhecimento e participação no poder, mas que, no entanto, transborda em páginas de luta, resistência, sabedoria, coragem, capacidade criativa, e, porque não, alegria e beleza.
São centenas de dissertações, teses, artigos, jornais, panfletos, ensaios, poemas, peças de teatro, romances, documentários, histórias em quadrinhos, charges, encontros, seminários, palestras, núcleos de estudos universitários, enfim, um patrimônio conquistado "à unha" pela organização do povo negro, haja vista, só para dar um exemplo, a verdadeira guerra que temos travado, contemporaneamente, para garantir os, ainda mínimos, percentuais de acesso às universidades brasileiras.
Esta disposição guerreira do povo negro para lutar pela vida e pela dignidade é a maior herança que recebemos de Xangô, o orixá que nunca morreu, e jamais morrerá, assim como ancestrais ilustres, como Mãe Aninha e Zumbi, que nos animam a continuar.

Lindinalva Barbosa (*)

* Lindinalva Barbosa é Omorixá Oyá do Terreiro do Cobre, mestranda em Estudos de Linguagem da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e representante regional da Fundação Cultural Palmares em Salvador, Bahia.

MEMORIAL ZUMBI: O herói negro finalmente na praça

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Salvador finalmente terá um líder afro-brasileiro entre os homens públicos homenageados em suas praças. Zumbi dos Palmares (1655-1695), pernambucano de origem bantu e líder por 20 anos do Quilombo de Palmares – principal território de resistência negra durante a escravidão no Brasil –, ganhará uma estátua na Praça da Sé, marco histórico da capital baiana. A iniciativa, empreendida mediante concurso do Ministério da Cultura através da Fundação Cultural Palmares, é fruto de uma luta de dois anos da ONG baiana A Mulherada, co-responsável pela realização do certame. “Zumbi foi o primeiro governador negro no Brasil e a construção da estátua ajudará a corrigir as distorções na representação histórica do país”, diz Lázaro Duarte, vice-presidente da ONG A Mulherada e idealizador do monumento.

O Concurso

Com inscrições abertas até 15 de março, o concurso visa à criação de uma estátua de bronze com altura de 2,20m e largura aproximada de 1m, a ser exposta sobre um pedestal em granito com cerca de 1,50m de altura. Os projetos inscritos serão analisados por uma comissão presidida pelo museólogo Emanoel Araujo, curador-chefe do Museu Afro Brasil de São Paulo, e o autor do projeto vencedor ganhará um prêmio de R$ 30 mil. Para Lázaro Duarte, o monumento deve ser uma estátua de corpo inteiro de Zumbi, representado em toda sua força política e negritude: “Queremos uma estátua que orgulhe o povo negro, e não Zumbi de tanga ou tocando tambor. O monumento deve expressar a resistência contra a escravização e qualquer forma de opressão ao negro brasileiro”, reforça.

Empenho para valorizar a história afro-brasileira

Empenhada na construção do monumento, a ONG A Mulherada recorreu em 2005 ao vereador baiano João Bacelar, autor do projeto de lei aprovado por unanimidade na Câmara dos Vereadores de Salvador, em 16 de novembro de 2005, para a instalação da estátua na Praça da Sé. Depois fez consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, uma vez que o espaço em questão é tombado, e conseguiu a permissão para construir o monumento no pedestal anteriormente ocupado pelo monumento ao primeiro-governador do Brasil, Thomé de Souza, transferido em 2005 para a praça de mesmo nome em frente à Prefeitura de Salvador. Uma série de atos públicos com a participação dos movimentos negros baianos foi organizada para conscientizar a população e as autoridades públicas sobre a importância da estátua. “A partir de agora, as escolas e os guias turísticos terão que saber a história de Zumbi para explicar a estudantes e turistas que cruzam a praça. O monumento será o estopim para uma tomada de consciência sobre a importância do negro na história brasileira”, avalia Lázaro Duarte.

Uma vez concretizada a homenagem a Zumbi dos Palmares em Salvador, a ong A Mulherada começará a trabalhar em um novo projeto: uma estátua dedicada à heroína negra Maria Felipa de Oliveira, a ser instalada na Ilha de Itaparica. Lendária por ter defendido a independência da Bahia no século XIX, liderando 40 mulheres que queimaram 42 barcos invasores portugueses na costa de Itaparica, Maria Felipa encontra poucos registros na história oficial do país. “Queremos que o Monumento Zumbi e a homenagem a Maria Felipa sejam um incentivo para que outras cidades também representem seus heróis negros”, diz Lázaro Duarte.

A Mulherada: 15 anos de atuação

Fundada em 1992, em Salvador, a ONG A Mulherada dedica-se à realização de ações afirmativas para desenvolvimento e capacitação da comunidade afrodescendente para o mercado de trabalho, especialmente das mulheres. Também produz eventos e atividades sociais tais como lançamentos de livros, a Segunda do Bacalhau,a Quarta Pra que te Quero, a Sexta do Samba, encontros, palestras, seminários e debates. Desde 1994, incentivou a criação de blocos afro como Kallundu, Kallundetes e Kallundinhos, posteriomente unidos no o Grêmio Comunitário Cultural e Carnavalesco A Mulherada. Anualmente reúne no carnaval milhares de mulheres de todos os credos e raças, sendo elas oriundas de entidades do movimento negro baiano.

Bianca Tinoco, ACS/FCP/MinC