PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

Objetivos: - A contribuição do negro na formação social brasileira - A discriminação racial no Brasil. Movimentos de resistência de negros pela cidadania e pela vida; - Políticas sociais e população negra: trabalho, saúde, educação e moradia; - Relações étnico-raciais, multiculturalismo e currículo; - Aspectos normativos da educação de afro-brasileiros. - EMAIL PARA CONTATO: negrosenegras@gmail.com

March 28, 2007

Colégio de Quintino (RJ) faz palestra sobre igualdade racial

A igualdade racial será tema de palestra no Colégio Estadual Professor Sousa da Silveira, em Quintino, na Zona Norte. A iniciativa é parte do Programa de Reflexões e Debates para a Consciência Negra. O evento acontece hoje (28/03), às 19 horas.

- Somos o segundo país com maior população negra, ficando atrás apenas da Nigéria, na África. Nosso objetivo é discutir se as campanhas e atividades promovidas contra a discriminação racial têm esclarecido, de fato, a população ou agravado ainda mais o tema. Queremos transformar a informação em conhecimento. - explicou a coordenadora pedagógica e organizadora do programa, Carla Lopes.

Durante a palestra, também serão comemorados o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial (21/03) e o aniversário do Mestre Abdias Nascimento (14/03).

- Não poderíamos deixar no esquecimento o dia 21 de março, em memória às vítimas do "Massacre de Sharpeville" na África do Sul, em 1960, quando 69 pessoas foram mortas pela polícia, enquanto protestavam pacificamente contra a extinção de restrições de circulação dos negros – disse Carla, lembrando que o calendário letivo escolar tem, atualmente, duas datas de reflexão sobre o movimento negro: 21/03 e 20/11 (Dia da Consciência Negra).

Ela também cita a importância do Mestre Abdias, primeiro senador negro no Brasil que se tornou símbolo da luta no combate ao racismo e pela igualdade racial. Nos anos 40, ele criou o Teatro Experimental do Negro, que oferecia profissionalização e alfabetização.

Os palestrantes convidados são: Luciano Cerqueira, cientista político e pesquisador social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e coordenador da campanha "Onde você guarda o seu racismo?" do Projeto Diálogos Contra o Racismo; e ainda, Marcio Alexandre Gualberto - jornalista, ativista dos Movimentos do Software Livre, dos Direitos Humanos e pela Igualdade Racial e coordenador Político do Coletivo de Entidades Negras do Estado do Rio de Janeiro.

O Programa de Reflexões e Debates para a Consciência Negra surgiu em 2004 depois de uma semana inteira dedicada às discussões sobre a Lei 10.639/03, que torna obrigatória a inserção da cultura afro-brasileira nos ensinos Fundamental e Médio. O evento deu tão certo que passou a fazer parte do Projeto Político Pedagógico (PPP) da unidade, em 2005, com o apoio de professores de todas as disciplinas e, principalmente, dos 520 alunos que cursam o Ensino Médio noturno.

As atividades, desde então, não pararam: exposições, palestras, debates e trabalhos em sala de aula já estão no dia-a-dia da escola. A idéia é valorizar o conhecimento dos docentes e estudantes, falar sobre a história africana e valorizar a contribuição dessa cultura no vocabulário, na culinária, na música e nas tradições do povo brasileiro.

No ano passado, foi lançado um documentário /monografia do jornalista e cientista social Pedro Pio, que acompanhou, durante oito meses, o Projeto Político Pedagógico, gravando as palestras temáticas, organizadas mensalmente, os projetos de alunos e atividades com outras instituições.

O CE Professor Sousa da Silveira fica na Rua Amália s/nº – Quintino.

Fonte: Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro

March 25, 2007

Março é o mês de Abdias Nascimento

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Por Oscar Henrique Cardoso

Brasília - No dia em que completou 93 anos de vida - 14 de março - o ex-senador, artista plástico e militante negro Abdias Nascimento é especialmente homenageado por sua trajetória em favor da defesa e valorização da cultura afro. Não só no Brasil, mas em outros países, Abdias Nascimento é agraciado com títulos de honra ao mérito. No ano passado, Abdias foi condecorado com o título de cidadão honoris causa pela Universidade de Brasília. Sua relevância para a história do Movimento Negro, junto com a sua trajetória artística pode ser vista na exposição Abdias Nascimento, 90 anos, Memória Viva, cuja mostra passou por várias cidades do Brasil em 2006, apoiada pela Fundação Cultural Palmares/MinC.

Caminhada

Nascido em Franca, SP, no dia 14 de março de 1914 e neto de africanos escravizados, bem cedo Abdias teve consciência do mundo que teria de enfrentar. Segundo filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro, Abdias várias vezes testemunhou brigas de sua mãe contra ofensas motivadas por questões raciais. Ele conta que o primeiro grande ensinamento na defesa do povo afro-brasileiro ocorreu quando, ainda criança, viu sua mãe sair em defesa de um menino negro órfão que estava sendo espancado na rua por uma mulher branca. Abdias cresceu numa família coesa, carinhosa e organizada, porém pobre, e diplomou-se em contabilidade pelo Atheneu Francano em 1929. Com 15 anos, alistou-se no exército e foi morar na capital São Paulo. Ali, na década de 1930, engaja-se na Frente Negra Brasileira e luta contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade. Prossegue na luta contra o racismo organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938.

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No início da década de 40, como integrante da Santa Hermandad Orquídea, viaja com poetas brasileiros e argentinos para uma série de palestras pela América do Sul. Em Lima, no Peru, resolve assistir a uma montagem de O imperador Jones, de Eugene O´Neill, estrelada por um ator branco pintado de preto. A imagem o fez refletir sobre a presença/ausência de atores negros no teatro brasileiro. Em 1944, ele cria o Teatro Experimental do Negro, que além de abordar a estética e a identidade da cultura afro-brasileira, foi responsável por formar os primeiros atores negros do teatro no Brasil. A entidade ainda patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46, que propõe à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria. À frente do TEN, Abdias organiza o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950. Militante do antigo PTB, é afastado do Brasil em 1968, indo viver nos Estados Unidos, onde atua como conferencista e professor. Desde o exílio, participa da formação do PDT. De volta ao Brasil, lidera em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT. Na qualidade de primeiro deputado federal afro-brasileiro a dedicar seu mandato à luta contra o racismo (1983-87), apresenta projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira. Como senador da República (1991, 1996-99), continua essa linha de atuação. O Governador Leonel Brizola o nomeia Secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, em 1999, assume como titular-fundador a cadeira de Secretário de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 2004, seu nome é indicado como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Abdias é hoje o homem símbolo da luta pela igualdade racial no Brasil.

Nas telas, religiosidade e sabedoria negra

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A obra artística de Abdias nasce de seu trabalho de curadoria no projeto do Museu de Arte Negra. Desafiado pelo amigo Efrain Tomás Bó, pinta suas primeiras telas em 1968. No dia da promulgação do AI-5, encontra-se em Nova York e é acolhido por uma amiga artista plástica norte-americana, Ann Bagley. Usando palitos de fósforo e restos de tinta que a amiga jogava fora, pinta seu primeiro quadro no exterior, o Riverside 1. Sente a pintura como uma forma eficaz de comunicação em terras estrangeiras. Desenvolve sua obra, num processo inteiramente autodidata, mergulhando no calor do processo criativo para fugir do frio nos invernos do norte. De volta ao Brasil, continua pintando à medida que as atividades cívicas e políticas o permitem. A pintura de Abdias Nascimento mergulha nas raízes culturais do mundo africano. Explora e interpreta diversas simbologias, desde a matriz primordial do Egito antigo, fonte da unidade essencial das civilizações africanas, passando pelo candomblé, o vodu do Haiti e os ideogramas adinkra da África ocidental. Essas referências se mesclam à evocação de heróis da luta de libertação dos povos africanos no continente e sua diáspora. O resultado é uma tessitura de temas e signos que brotam das cosmogonias e das passagens existenciais comuns aos povos afrodescendentes. Esses temas e signos realçam valores universais à experiência humana. O fazer criativo de Abdias une a atuação cívica anti-racista com a valorização da cultura, identidade e herança africanas. Obras publicadas e selecionadas Entre peças teatrais, poesia, ensaios e trabalhos de pesquisa, Abdias tem mais de 20 livros publicados de sua autoria. Também organizou revistas, antologias e coletâneas que registram a sua atuação cívica e cultural, bem como as realizações das entidades que criou. Sua peça Sortilégio tem duas versões, ambas traduzidas ao inglês:

Quilombo: Edição em fac-símile do jornal dirigido por Abdias do Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2003.

O quilombismo, 2ª ed. Brasília/ Rio de Janeiro: Fundação Cultural Palmares/ OR Produtor Editor, 2002.

O Brasil na Mira do Pan-Africanismo. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais/ Editora da Universidade Federal da Bahia EDUFBA, 2002.

Orixás: os Deuses Vivos da África/ Orishas: the Living Gods of Africa in Brazil. Rio de Janeiro/ Philadelphia: Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros/Temple University Press, 1995.

A Luta Afro-Brasileira no Senado. Brasília: Senado Federal, 1991.

Africans in Brazil :a Pan-African Perspective, com Elisa Larkin Nascimento. Trenton: Africa World Press, 1991.

Brazil: Mixture or Massacre, trad. Elisa Larkin Nascimento. Dover: The Majority Press, 1989.

Combate ao Racismo, 6 vols. Brasília: Câmara dos Deputados, 1983-86. (Discursos e projetos de lei.)

Povo Negro: A Sucessão e a "Nova República". Rio de Janeiro: Ipeafro, 1985.

Jornada Negro-Libertária. Rio de Janeiro: Ipeafro, 1984.

Axés do Sangue e da Esperança: Orikis. Rio de Janeiro: Achiamé e RioArte, 1983. (Poesia.)

Sitiado em Lagos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

O Quilombismo. Petrópolis: Vozes, 1980.

Sortilégio II: Mistério Negro de Zumbi Redivivo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. (Peça de teatro.)

Sortilege: Black Mystery, trad. Peter Lownds. Chicago: Third World Press, 1978.

Mixture or Massacre, trad. Elisa Larkin Nascimento. Búfalo: Afrodiaspora, 1979.

O Genocídio do Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

"Racial Democracy" in Brazil: Myth or Reality, trad. Elisa Larkin Nascimento, 2ª ed. Ibadan: Sketch Publishers, 1977.

"Racial Democracy" in Brazil: Myth or Reality, trad. Elisa Larkin Nascimento, 1ª ed. Ile-Ife: University of Ife, 1976.

Sortilégio (mistério negro). Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro, 1959 (Peça de teatro).

Os Orixás do Abdias, Pinturas e Poesia de Abdias Nascimento

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Os orixás dessas telas resultam das reflexões e aventuras do espírito de Abdias Nascimento no rastro de um problema que, para ele mais do que uma questão artística ou acadêmica é uma exigência vital. Organizadora: Elisa Larkin Nascimento

Leia a publicação (PDF / 1.8MB).


Fundação Cultural Palmares

March 19, 2007

19 de março de 1849: 158 anos da Revolta do Queimado

Mais de 200 negros se organizam para proclamar a libertação dos escravos no Espírito Santo

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No ano de 1845, com o intuito de construir um templo religioso no distrito de Queimado - na época, pertencente à capital do Espírito Santo, Vitória - o frei italiano, Gregório Maria de Bene, sem recursos para isso, convocou toda a população da cidade para o trabalho de levantar sua tão sonhada igreja.

O distrito de Queimado era um pequeno porto comercial no qual chegavam muitos carregamentos de café e outros alimentos provindos da cidade de Santa Leopoldina.
Aproveitando-se disso, o vigário chamou pobres e ricos, brancos e pretos para ajudarem na construção de seu templo, carregando nos ombros pedras, areia e madeiras. Mas para isso, fez uma promessa especial ao negros: no dia da inauguração da obra, os escravos que o tivessem ajudado receberiam a carta de alforria.

Entusiasmados com tamanha dádiva que receberiam, os escravos trabalharam dedicados, movidos pelo cântico da liberdade. Durante um ano, aos domingos, noites de luar e nas horas de folga lá estavam eles, erguendo as estruturas de seus próprios sonhos: a liberdade.

No entanto, ao chegar o dia da inauguração do templo, 19 de março de 1849, após ouvirem com grande ânimo a missa do frade, os escravos esperavam o cumprimento da promessa. Mas o sonho lhes foi negado.

O fato demonstrou uma forte organização dos escravos que mesmo subjugados ao domínio dos brancos, reagiu e exigiu aos gritos a tão sonhada liberdade. A Revolta do Queimado durou até a prisão de Elisiário, um dos líderes do Movimento, cinco dias depois de seu início.

Em 2 de junho de 1849, o júri sentenciou à forca cinco dos líderes da revolta, absolveu seis e condenou 25 à açoites, faltando quatro foragidos a serem julgados. Um dos líderes, Chico Prego, não temia a morte, pois dizia que não cometera crime algum. Atribuía como culpado pela sua desgraça o Reverendo Gregório de Bene por prometer liberdade logo após a conclusão da igreja. Chico Prego foi executado no dia 11, no município da Serra. Elisiário fugiu da cadeia, graças a um milagre e formou um quilombo na região do Morro do Mestre Álvaro e do Monte do Mouxuara, em Cariacica. Segundo o historiador, Clério José Borges, "a Revolta do Queimado foi um marco da negritude em busca da liberdade, fato que ninguém pode negar".

SAIBA MAIS:

Sobre a Revolta do Queimado

Livros:

· Negros no Espírito Santo - de Cleber da Silva Maciel.
· A Escravidão e a Abolição no Espírito Santo. História e Folclore - de Maria Stella de Novaes.
· Negros do Espírito Santo - de Leonor de Araújo Santanna.
· A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo - de Wilson Lopes de Resende
· Insurreição do Queimado em Poesia - de Teodorico Boa Morte
· O templo e a forca - Luiz Guilherme dos Santos Neves
· Insurreição do Queimado - de Afonso Cláudio
· História da Serra - de Clério José Borges.

Filme:

O episódio já foi retratado também em vídeo, é o curta - Insurreição - dirigido pelo cineasta João Carlos Coutinho que relata a saga dos negros escravos do distrito do Queimado, no Município da Serra/ES, em 1849. As filmagens ocorreram em março de 2004, na região do sítio histórico da Igreja de São João Batista de Carapina. O roteiro é baseado na monografia "Insurreição do Queimado - Episódio da História da Província do Espírito Santo", de Afonso Cláudio.

Marcus Bennett – ACS/FCP/MinC

March 13, 2007

EVENTOS

1ª Conferência Internacional do Centro de Estudos das Culturas e Línguas Africanas e da Diáspora Negra

VI Colóquio do NUPEII Encontro das Áfricas em Araraquara Período: 15 a 17 de maio de 2007
TEMA CENTRAL DA I CONCLADIN: Família, Etnias e Raças: a cultura, o gênero e a saúde - um olhar multidisciplinar das relações África-Brasil-Américas Maiores

March 08, 2007

Cultura negra em exposição para alunos de escolas estaduais

Professores e estudantes da rede estadual de ensino estão convidados para a exposição fotográfica “Filhas da África”, aberta à visitação na Fundação Escola de Serviço Público (Fesp) a partir do dia 9 deste mês.

Assinada pelo fotógrafo Zezinho Andrade, a mostra traz imagens de mulheres negras que fizeram história no estado do Rio. A atriz Ruth de Souza, fundadora do Teatro Experimental do Negro, e a baiana Tia Ciata, importante figura no universo do samba carioca, estão entre as clicadas.

A parceria entre as secretarias de Cultura e Educação e a Fesp reforça as ações implantadas no estado para o cumprimento da lei 10.639, que prevê a discussão da história e da cultura afro-brasileira no currículo da rede estadual de ensino. A idéia é fortalecer e resgatar a influência que a cultura negra teve na formação do nosso povo, da nossa cultura e religião.

A mostra fotográfica é gratuita e vai até o dia 23, das 10h às 19h. Os professores interessados podem levar a sua turma da escola. A Fesp fica na Avenida Carlos Peixoto 54, Botafogo.

ALGUNS DOS ORIXÁS NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS V

OIÁ

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Ogum caçava na floresta quando avistou um búfalo. Ficou na espreita, pronto para abater a fera. Qual foi sua surpresa ao ver que, de repente, de sob a pele do búfalo saiu uma mulher linda. Era Oiá. E não se deu conta de estar sendo observada. Ela escondeu a pele de búfalo e caminhou para o mercado da cidade. Tendo visto tudo, Ogum aproveitou e roubou a pele. Ogum escondeu a pele de Oiá num quarto de sua casa. Depois foi ao mercado ao encontro da bela mulher. Estonteado por sua beleza, Ogum cortejou Oiá. Pediu-a em casamento. Ela não respondeu e seguiu para floresta. Mas lá chegando não encontrou a pele. Voltou ao mercado e encontrou Ogum. Ele esperava por ela, mas fingiu nada saber. Negou haver roubado o que quer que fosse de Iansã. De novo, apaixonado, pediu Oiá em casamento. Oiá, astuta, concordou em se casar e foi viver com Ogum em sua casa, mas fez as suas exigências: ninguém na casa poderia referir-se a ela fazendo qualquer alusão a seu lado animal. Nem se poderia usar a casca do dendê para fazer o fogo, nem rolar o pilão pelo chão da casa. Ogum ouviu seus apelos e expôs aos familiares as condições para todos conviverem em paz com sua nova esposa. A vida no lar entrou na rotina. Oiá teve nove filhos e por isso era chamada Iansã, a mãe dos nove. Mas nunca deixou de procurar a pele de búfalo. As outras mulheres de Ogum cada vez mais sentiam-se enciumadas. Quando Ogum saía para caçar e cultivar o campo, elas planejavam uma forma de descobrir o segredo da origem de Iansã. Assim, uma delas embriagou Ogum e este revelou o mistério. E na ausência de Ogum, as mulheres passam a cantarolar coisas. Coisas que sugeriam o esconderijo da pele de Oiá e coisas que aludiam ao seu lado animal. Um dia, estando sozinha em casa, Iansã procurou em cada quarto, até que encontrou sua pele. Ela vestiu a pele e esperou que as mulheres retornassem. E então saiu bufando, dando chifradas em todas, abrindo-lhes a barriga. Somente seus nove filhos foram poupados. E eles, desesperados, clamavam por sua benevolência. O búfalo acalmou-se, os consolou e depois partiu. Antes, porém, deixou com os filhos o seu par de chifres. Num momento de perigo ou de necessidade, seus filhos deveriam esfregar um dos chifres no outro. E Iansã, estivesse onde estivesse, viria rápida como um raio em seu socorro.

XANGÔ

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Xangô e seus homens lutavam com um inimigo implacável. Os guerreiros de Xangô, capturados pelo inimigo, eram mutilados e torturados até a morte, sem piedade ou compaixão. As atrocidades já não tinham limites. O inimigo mandava entregar a Xangô seus homens aos pedaços. Xangô estava desesperado e enfurecido. Xangô subiu no alto de uma pedreira perto do acampamento e dali consultou Orunmilá sobre o que fazer. Xangô pediu ajuda a Orunmilá. Xangô estava irado e começou a bater nas pedras com o oxé, bater com seu machado duplo. O machado arrancava das pedras faíscas, que acendiam no ar famintas línguas de fogo, que devoravam os soldados inimigos. A guerra perdida foi se transformando em vitória. Xangô ganhou a guerra. Os chefes inimigos que haviam ordenado o massacre dos soldados de Xangô foram dizimados por um raio que Xangô disparou no auge da fúria. Mas os soldados inimigos que sobreviveram foram poupados por Xangô. A partir daí, o senso de justiça de Xangô foi admirado e cantado por todos. Através dos séculos, os orixás e os homens têm recorrido a Xangô para resolver todo tipo de pendência, julgar as discordâncias e administrar justiça.

YEMANJÁ

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Iemanjá e Orunmilá eram casados. Orunmilá era um grande adivinho. Com seus dotes sabia interpretar os segredos dos búzios. Certa vez Orunmilá viajou e demorou para voltar e Iemanjá viu-se sem dinheiro em casa. Então, usando o oráculo do marido ausente, Passou a atender uma grande clientela e fez muito dinheiro. No caminho de volta para casa, Orunmilá ficou sabendo que havia em sua aldeia uma mulher de grande sabedoria e poder de cura, que com a perfeição de um babalaô jogava búzios. Ficou desconfiado. Quando voltou, não se apresentou a Iemanjá, preferindo vigiar, escondido, o movimento em sua casa. Não demorou a constatar que era mesmo a sua mulher a autora daqueles feitos. Orunmilá repreendeu duramente Iemanjá. Iemanjá disse que fez aquilo para não morrer de fome. Mas o marido contrariado a levou perante Olofim-Olodumare. Olofim reiterou que Orunmilá era e continuaria sendo o único dono do jogo oracular que permite a leitura do destino. Ele era o legítimo conhecedor pleno das histórias que forma a ciência dos dezesseis odus. Só o sábio Orunmilá pode ler a complexidade e as minúcias do destino. Mas reconheceu que Iemanjá tinha um pendor para aquela arte, pois em pouco tempo angariara grande freguesia. Deu a ela então autoridade para interpretar as situações mais simples, que não envolvessem o saber completo dos dezesseis odus. Assim as mulheres ganharam uma atribuição antes totalmente masculina.

Fonte: Livro Mitologia dos Orixás, 2001.

March 04, 2007

ALGUNS DOS ORIXÁS NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS IV

OXÓSSI

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Oxóssi ou Odé foi rei de Ketu. Sua origem lendária conta que durante os festejos da colheita de Inhame , no palácio real de Olofin, em Ifé, este havia esquecido das oferendas às feiticeiras (Yammis Oxorongá). Por vingança, elas mandaram ao palácio um imenso pássaro que planou sobre a multidão e pousou no telhado do palácio. Desesperado, Olofin convocou quatro Oxos(caçadores), mas só o último deles, Oxotakanxoxo("O atirador de uma única flecha") conseguiu matar o animal e passou a chamar-se Oxóssi, o caçador amado pelo povo.

OXUN

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Certa vez, Oloú, rei de Oloú, precisava atravessar o rio onde vivia Oxum. O rio naquele dia se encontrava enfurecido e os exércitos do rei não podiam passar pelas traiçoeiras correntezas. Oloú fez um pacto com Oxum para que baixasse o nível das águas. Em troca lhe oferecia um bela prenda. Oxum entendeu que Oloú estava prometendo Prenda Bela. Prenda Bela era o nome da mulher de Oloú, filha dileta do rei de Ibadã. Oxum baixou o nível das águas e Oloú passou com seu exército. Oloú jogou no rio a bela prenda: uma grande oferenda com as melhores comidas e bebidas, os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos. Tudo foi devolvido para as areias das margens de Oxum. Oxum só queria Prenda Bela, a princesa. Tempos depois, Oloú retornou vitorioso de sua expedição e, ao chegar ao rio, este novamente estava turbulento, O rei ofereceu de novo o mesmo que ofertara antes: uma bela prenda com as melhores comidas e bebidas os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos. Oxum recusou o oferecido. tudo foi devolvido à praia, intocado. Ela queria Prenda Bela, a esposa de Oloú, que estava grávida. Contrariado, mas sem ter outra saída, Oloú lançou ao rio sua indefesa e grávida consorte. ao ser lançada às águas revoltas, Prenda Bela deu à luz uma criança. Oxum devolveu a criança; era somente Prenda Bela que ela queria. Oloú seguiu seu caminho, retornando muito triste a seu reino. O rei Ibadã logo foi informado do fim trágico da filha. Declarou guerra a Oloú, venceu-o e o expulsou para sempre do país.

OXUMARÊ

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Oxumarê era um rapaz muito bonito e invejado. Suas roupas tinhas todas as cores do arco-íris e suas jóias de ouro e bronze faiscavam de longe. Todos queriam aproximar-se de Oxumarê, mulheres e homens, todos queriam seduzi-lo e com ele se casar. Mas Oxumarê era também muito contido e solitário. Preferia andar sozinho pela abóbada celeste, onde todos costumavam vê-lo em dia de chuva. Certa vez Xangô viu Oxumarê passar, com todas as cores de seu traje e todo brilho de seus metais. Xangô conhecia a fama de Oxumare de não deixar ninguém dele se aproximar. Preparou então uma armadilha para capturar o Arco-Íris. Mandou chamá-lo para uma audiência em seu palácio e, quando Oxumarê entrou na sala do trono, os soldados de Xangô fecharam as portas e janelas, aprisionando Oxumarê junto com Xangô. Oxumarê ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora. Xangô tentava tomar Oxumarê nos braços e Oxumarê escapava, correndo de um canto para outro. Não vendo como se livrar, Oxumarê pediu ajuda a Olorum e Olorum ouviu sua súplica. No momento em que Xangô imobilizava Oxumarê, Oxumarê foi transformado numa cobra, que Xangô largou com nojo e medo. A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos. Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou Oxumarê. Assim livrou-se Oxumarê do assédio de Xangô. Quando Oxumarê e Xangô foram feitos orixás, Oxumarê foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Xangô no Orum.

Fonte: Livro Mitologia dos Orixás, 2001