PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

Objetivos: - A contribuição do negro na formação social brasileira - A discriminação racial no Brasil. Movimentos de resistência de negros pela cidadania e pela vida; - Políticas sociais e população negra: trabalho, saúde, educação e moradia; - Relações étnico-raciais, multiculturalismo e currículo; - Aspectos normativos da educação de afro-brasileiros. - EMAIL PARA CONTATO: negrosenegras@gmail.com

March 25, 2007

Março é o mês de Abdias Nascimento

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Por Oscar Henrique Cardoso

Brasília - No dia em que completou 93 anos de vida - 14 de março - o ex-senador, artista plástico e militante negro Abdias Nascimento é especialmente homenageado por sua trajetória em favor da defesa e valorização da cultura afro. Não só no Brasil, mas em outros países, Abdias Nascimento é agraciado com títulos de honra ao mérito. No ano passado, Abdias foi condecorado com o título de cidadão honoris causa pela Universidade de Brasília. Sua relevância para a história do Movimento Negro, junto com a sua trajetória artística pode ser vista na exposição Abdias Nascimento, 90 anos, Memória Viva, cuja mostra passou por várias cidades do Brasil em 2006, apoiada pela Fundação Cultural Palmares/MinC.

Caminhada

Nascido em Franca, SP, no dia 14 de março de 1914 e neto de africanos escravizados, bem cedo Abdias teve consciência do mundo que teria de enfrentar. Segundo filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro, Abdias várias vezes testemunhou brigas de sua mãe contra ofensas motivadas por questões raciais. Ele conta que o primeiro grande ensinamento na defesa do povo afro-brasileiro ocorreu quando, ainda criança, viu sua mãe sair em defesa de um menino negro órfão que estava sendo espancado na rua por uma mulher branca. Abdias cresceu numa família coesa, carinhosa e organizada, porém pobre, e diplomou-se em contabilidade pelo Atheneu Francano em 1929. Com 15 anos, alistou-se no exército e foi morar na capital São Paulo. Ali, na década de 1930, engaja-se na Frente Negra Brasileira e luta contra a segregação racial em estabelecimentos comerciais da cidade. Prossegue na luta contra o racismo organizando o Congresso Afro-Campineiro em 1938.

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No início da década de 40, como integrante da Santa Hermandad Orquídea, viaja com poetas brasileiros e argentinos para uma série de palestras pela América do Sul. Em Lima, no Peru, resolve assistir a uma montagem de O imperador Jones, de Eugene O´Neill, estrelada por um ator branco pintado de preto. A imagem o fez refletir sobre a presença/ausência de atores negros no teatro brasileiro. Em 1944, ele cria o Teatro Experimental do Negro, que além de abordar a estética e a identidade da cultura afro-brasileira, foi responsável por formar os primeiros atores negros do teatro no Brasil. A entidade ainda patrocina a Convenção Nacional do Negro em 1945-46, que propõe à Assembléia Nacional Constituinte de 1946 a inclusão de políticas públicas para a população afro-descendente e um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-pátria. À frente do TEN, Abdias organiza o 1º Congresso do Negro Brasileiro em 1950. Militante do antigo PTB, é afastado do Brasil em 1968, indo viver nos Estados Unidos, onde atua como conferencista e professor. Desde o exílio, participa da formação do PDT. De volta ao Brasil, lidera em 1981 a criação da Secretaria do Movimento Negro do PDT. Na qualidade de primeiro deputado federal afro-brasileiro a dedicar seu mandato à luta contra o racismo (1983-87), apresenta projetos de lei definindo o racismo como crime e criando mecanismos de ação compensatória para construir a verdadeira igualdade para os negros na sociedade brasileira. Como senador da República (1991, 1996-99), continua essa linha de atuação. O Governador Leonel Brizola o nomeia Secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (1991-94). Mais tarde, em 1999, assume como titular-fundador a cadeira de Secretário de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 2004, seu nome é indicado como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Abdias é hoje o homem símbolo da luta pela igualdade racial no Brasil.

Nas telas, religiosidade e sabedoria negra

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A obra artística de Abdias nasce de seu trabalho de curadoria no projeto do Museu de Arte Negra. Desafiado pelo amigo Efrain Tomás Bó, pinta suas primeiras telas em 1968. No dia da promulgação do AI-5, encontra-se em Nova York e é acolhido por uma amiga artista plástica norte-americana, Ann Bagley. Usando palitos de fósforo e restos de tinta que a amiga jogava fora, pinta seu primeiro quadro no exterior, o Riverside 1. Sente a pintura como uma forma eficaz de comunicação em terras estrangeiras. Desenvolve sua obra, num processo inteiramente autodidata, mergulhando no calor do processo criativo para fugir do frio nos invernos do norte. De volta ao Brasil, continua pintando à medida que as atividades cívicas e políticas o permitem. A pintura de Abdias Nascimento mergulha nas raízes culturais do mundo africano. Explora e interpreta diversas simbologias, desde a matriz primordial do Egito antigo, fonte da unidade essencial das civilizações africanas, passando pelo candomblé, o vodu do Haiti e os ideogramas adinkra da África ocidental. Essas referências se mesclam à evocação de heróis da luta de libertação dos povos africanos no continente e sua diáspora. O resultado é uma tessitura de temas e signos que brotam das cosmogonias e das passagens existenciais comuns aos povos afrodescendentes. Esses temas e signos realçam valores universais à experiência humana. O fazer criativo de Abdias une a atuação cívica anti-racista com a valorização da cultura, identidade e herança africanas. Obras publicadas e selecionadas Entre peças teatrais, poesia, ensaios e trabalhos de pesquisa, Abdias tem mais de 20 livros publicados de sua autoria. Também organizou revistas, antologias e coletâneas que registram a sua atuação cívica e cultural, bem como as realizações das entidades que criou. Sua peça Sortilégio tem duas versões, ambas traduzidas ao inglês:

Quilombo: Edição em fac-símile do jornal dirigido por Abdias do Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2003.

O quilombismo, 2ª ed. Brasília/ Rio de Janeiro: Fundação Cultural Palmares/ OR Produtor Editor, 2002.

O Brasil na Mira do Pan-Africanismo. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais/ Editora da Universidade Federal da Bahia EDUFBA, 2002.

Orixás: os Deuses Vivos da África/ Orishas: the Living Gods of Africa in Brazil. Rio de Janeiro/ Philadelphia: Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros/Temple University Press, 1995.

A Luta Afro-Brasileira no Senado. Brasília: Senado Federal, 1991.

Africans in Brazil :a Pan-African Perspective, com Elisa Larkin Nascimento. Trenton: Africa World Press, 1991.

Brazil: Mixture or Massacre, trad. Elisa Larkin Nascimento. Dover: The Majority Press, 1989.

Combate ao Racismo, 6 vols. Brasília: Câmara dos Deputados, 1983-86. (Discursos e projetos de lei.)

Povo Negro: A Sucessão e a "Nova República". Rio de Janeiro: Ipeafro, 1985.

Jornada Negro-Libertária. Rio de Janeiro: Ipeafro, 1984.

Axés do Sangue e da Esperança: Orikis. Rio de Janeiro: Achiamé e RioArte, 1983. (Poesia.)

Sitiado em Lagos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

O Quilombismo. Petrópolis: Vozes, 1980.

Sortilégio II: Mistério Negro de Zumbi Redivivo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. (Peça de teatro.)

Sortilege: Black Mystery, trad. Peter Lownds. Chicago: Third World Press, 1978.

Mixture or Massacre, trad. Elisa Larkin Nascimento. Búfalo: Afrodiaspora, 1979.

O Genocídio do Negro Brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

"Racial Democracy" in Brazil: Myth or Reality, trad. Elisa Larkin Nascimento, 2ª ed. Ibadan: Sketch Publishers, 1977.

"Racial Democracy" in Brazil: Myth or Reality, trad. Elisa Larkin Nascimento, 1ª ed. Ile-Ife: University of Ife, 1976.

Sortilégio (mistério negro). Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro, 1959 (Peça de teatro).

Os Orixás do Abdias, Pinturas e Poesia de Abdias Nascimento

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Os orixás dessas telas resultam das reflexões e aventuras do espírito de Abdias Nascimento no rastro de um problema que, para ele mais do que uma questão artística ou acadêmica é uma exigência vital. Organizadora: Elisa Larkin Nascimento

Leia a publicação (PDF / 1.8MB).


Fundação Cultural Palmares

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