PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

Objetivos: - A contribuição do negro na formação social brasileira - A discriminação racial no Brasil. Movimentos de resistência de negros pela cidadania e pela vida; - Políticas sociais e população negra: trabalho, saúde, educação e moradia; - Relações étnico-raciais, multiculturalismo e currículo; - Aspectos normativos da educação de afro-brasileiros. - EMAIL PARA CONTATO: negrosenegras@gmail.com

May 02, 2009

Em 2010 quero ser senador.

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Ele foi eleito para uma das 55 vagas da Câmara Municipal de São paulo com 84.383 votos e já estreou na política fazendo barulho como o vereador negro mais votado na história da cidade. para Netinho de Paula, de 38 anos, isso é apenas o começo! nesta entrevista, netinho fala sobre a presença dos negros na política nacional e seu desejo de ir mais além, da falta de apoio do governo para a TV da Gente


Como você encara a responsabilidade de ser o vereador negro com a maior votação da história na Câmara Municipal de São Paulo?

Recebi todos esses votos com muita humildade e com um senso de responsabilidade muito grande. As pessoas sempre aplaudiram as minhas ações sociais pelo fato de eu ser um artista muito envolvido com essas questões. Agora, quando depositam o voto nas urnas para que você seja um representante público, é porque estão querendo que você tenha mais responsabilidade com as coisas dessas pessoas, então, eu sinto, sim, um peso e acho que sou capaz de carregá-lo, inclusive de reverter para que ele se torne mais pesado lá na frente.

Nossa presença na política partidária e eleitoral é quase inexistente. Dos 81 senadores, apenas Paulo Paim e Marina Silva. Enquanto deputados e vereadores são poucos. Você acha que o negro tem dificuldade em votar em negro, já que somos a metade da população?

Isso é um fato que acontece. Acho que a minha eleição foi uma exceção. O fato de eu ter ido à televisão e ser chamado de negrão, de fazer o concurso da mais bela negra entre outras coisas, criou um conceito, mas que não foi partidário. Na verdade, não temos mais um partido onde a gente se encontre, uma unidade que possamos falar: "Olha, esse aqui representa a gente". Eu tenho essa pretensão, de poder ter um canto político para discutir as questões étnicas, e o PC do B é um partido que está de braços abertos para isso. Quero fazer esse papel, somente assim quando sentirmos que temos um espaço nosso, que não são favores, que não são apoios para algumas ONGs de negros, quando quebrarmos esse paradigma, nós sentiremos esse conceito de voto étnico que não temos no Brasil.

Um de seus slogans de campanha foi: "O gueto vai invadir". Explique isso melhor.

Acho que está faltando representação popular na política. A nova legislação torna a política mais restrita do que ela é, primeiro porque nos partidos existem os 'caciques' e, quem não tiver uma aprovação de renda ou não tiver o nome limpo não pode se candidatar. Isso é uma maneira de se agregar, de eliminar e de fazer com que a periferia não participe do processo político ativamente. Você só serve como eleitor e não como candidato. Quando eu disse que o gueto vai invadir é para marcar um pouco: "Olha, tem um cara que é do gueto e vocês não vão conseguir barrar!"
"As pessoas só saem da periferia para o centro porque não existe estrutura. Se eu puder levar carinho, esporte, educação, música e emprego para a periferia, o jovem não vai querer sair de lá"

Você acha que, a exemplo dos Estados Unidos, nós podemos em breve ter um presidente negro?

Sim! Acho também que o presidente Lula, antecipadamente, cumpriu esse papel. A gente sentiu nele um operário, um negro, um pobre, um lixeiro, um pedreiro, um operário em si. Ele já nos representa em tudo isso, mas com o passar do tempo e com a luta ganha, você tem novas batalhas. O povo que luta para ter uma melhor qualidade de vida está sempre em mudança constante. Acho que chegou o momento de a gente pelo menos se posicionar. Nós temos figuras competentes, com experiência e força política capazes de exercer esse papel na presidência da República, como o Paulo Paim, o ministro Orlando Silva, Joaquim Barbosa. Agora, é necessário colocar esses nomes mais próximos da comunidade, de pessoas que votariam neles. Por incrível que pareça a maioria dos negros que se tornam poderosos politicamente deixam de ter esse vínculo com a periferia, onde exatamente estão aqueles que têm o poder de elegê-los.

Comenta-se que seu próximo desafio nas urnas será concorrer a uma cadeira no Senado. Isso procede?

Sim, é uma verdade. Esse é o meu desejo desde o início. Sair como vereador foi um acordo que eu tive com o PC do B, de servir como uma formação política para mim e para o partido ter um presença política mais marcante aqui em São Paulo. Nós elegemos dois vereadores com essa decisão, eu e o Jamil Murad. Agora vou para 2010 pleitear o cargo de senador. É um desejo meu e é necessário criar esse desejo também na classe política do partido e na população.

Você é um homem de sucesso na música, na vida empresarial e, agora, mais recentemente na política. Quais dessas atividades são mais difíceis e quais as mais fáceis de levar?

Eu me envolvo com seriedade em tudo o que faço e, tendo seriedade, não há facilidade. No campo profissional é difícil. A música, por exemplo, ainda que as pessoas encarem como entretenimento, é um mercado competitivo, desleal, que ainda não é tão regulamentado, mas que eu consegui vencer, e foi o primeiro mercado que eu desbravei. Então, eu diria que o que mais me dá prazer na vida é continuar cantando, o que não impede as minhas ações empresariais e políticas. Até por isso que eu me aventurei e estou de cabeça nesse processo político, mas música é o segmento que mais domino.

De menino pobre da periferia a uma pessoa bem sucedida. Em sua opinião, o negro é mais discriminado quando está no gueto ou quando tem sucesso?

Na verdade não muda muito, o que acontece é que quando você tem dinheiro fica muito mais resistente às ações preconceituosas que te atacam. Quando você não tem essa condição financeira para se defender, é muito mais sensível e vulnerável, mas seu coração sente do mesmo jeito, a não ser que você tenha deixado de ser negro.

Certa vez você disse que se tivesse 10% de apoio governamental do que foi investido na TV Brasil, a TV da Gente seria um sucesso. Não houve apoio algum naquele projeto?

Não teve mesmo e, por incrível que pareça, eu tomei a iniciativa de montar a TV da Gente exatamente no ano em que o presidente Lula estava assumindo pela primeira vez o seu mandato. Com isso achei que seria uma ótima oportunidade, que ali a gente causaria uma grande revolução, porque ele (Lula) entende e as idéias coincidiam com as questões étnicas a serem discutidas na TV, mas infelizmente ao invés de apoiar a TV da Gente, ele partiu para o projeto da TV Brasil. Diria que a nossa população até hoje não sabe o que é. Se você perguntar no gueto o que era a TV da Gente, todos saberão responder. Com a quantidade de recursos que foi empregada na TV Brasil, se a gente tivesse 10% desse valor, a situação seria outra!

Qual a principal lição que a experiência da TV da Gente lhe deu?

Que precisamos montar um senso crítico. Infelizmente a imprensa deturpou muito o projeto, dizendo que era um programa de negros para negros, que era uma TV racista, da mesma forma que se fala da Revista Raça Brasil. Quando isso aconteceu, o mercado publicitário criou uma aversão à TV, desta forma não vieram recursos e, não tendo recursos do governo você não consegue pagar as contas. Então, sinto que o principal motivo da queda do projeto em São Paulo foi o fato de termos falado muito, feito muito barulho em cima da TV da Gente sem ter os apoios políticos e a imprensa correta do nosso lado.

A violência de jovens negros mortos nas periferias é assustador, você mesmo já teve um irmão assassinado. Agora, como político, pensa em fazer algo a respeito?

Penso sim, inclusive o remédio que eu proponho é antigo para uma doença também antiga. As pessoas só saem da periferia para o centro porque não existe estrutura. Se eu puder levar carinho, esporte, educação, música e emprego para a periferia, o jovem não vai querer sair de lá. Se ele tiver a oportunidade de participar de uma ONG como eu... Pude escolher entre o tráfico e várias atividades, escolhi a música. Terei feito a minha parte se conseguir levar isso às periferias. Eu montei um sonho e não vou conseguir fazer sozinho, nem de imediato, mas a minha contribuição para a política vai ser sim para diminuir a mortalidade juvenil do jovem negro.

O que os eleitores podem esperar do vereador Netinho de Paula?

Eu pretendo ser um político combatente, não diria polêmico, mas se a função de vereador é ser fiscal, então vou ser fiscal. Não me incluo numa oposição ignorante e burra ao prefeito Gilberto Kassab. A minha oposição é responsável porque ele foi um homem escolhido pela população. Quero ser criterioso, propor leis e também fiscalizar as leis que estão sendo propostas e estabelecidas na cidade de São Paulo a partir do meu mandato.

Netinho no SBT

E depois de muita negociação, ele volta a apresentar um programa na televisão, um desejo antigo desde o fim do Domingo da Gente, na Record, em 2005. As negociações com o SBT se arrastam desde o ano passado, mesmo antes de Netinho tentar uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo. "Basicamente terá o mesmo formato do antigo programa, inclusive com quadros de sucesso como o Dia de Princesa", afirma o vereador, que deve estrear na emissora de Silvio Santos no início de maio. A atração terá a direção de Marlene Matos e será exibida nas tardes de sábado. Para Netinho, o novo compromisso não atrapalhará a sua carreira política. "Eu tinha uma enorme vontade de fazer televisão outra vez e agora isso é uma realidade. Mas os meus eleitores podem ficar tranquilos, nada vai mudar", avisa.





por MAURÍCIO PESTANA | foto RAFAEL CUSATO / Revista Raça Brasil

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