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April 24, 2009

Thalma de Freitas: Beleza negra fortalece a moda

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A atriz e cantora Thalma de Freitas,
que planeja um desfile sem nenhuma modelo loura


Thalma de Freitas, cantora e atriz negra, acharia desconfortável ouvir que seu contrato com a Rede Globo se deve a uma política de cotas da emissora. Acredita que seria um "desmerecimento de seu talento" como fazem os estilistas que não incluem modelos negras em seus desfiles. Para Thalma, a beleza negra é um fator de afirmação da moda brasileira no cenário internacional.

A promotora do Ministério Público Federal Déborah Kelly Affonso propôs a criação de cotas para modelos negros na São Paulo Fashion Week. O criador do evento, Paulo Borges, julga que não lhe compete interferir no trabalho dos estilistas. Thalma de Freitas afirma que a iniciativa da promotora de levantar a polêmica já é por si só saudável. "Eu sempre acho importante discutir, chamar a atenção das pessoas", diz a atriz.

A estilista Glória Coelho declarou que muitos negros atuam nos bastidores dos desfiles e que, por isso, já têm seu trabalho valorizado - longe das passarelas. Thalma rebate: "Por que (negros) têm que estar na passarela? Porque é modelo, modelo de beleza, pra servir de referência. Por que a gente (negros) não pode servir de referência? Não entendi". Então explica a própria artista:

- Eu acho mesmo uma pena. Uma pena não ter todo tipo de mulher brasileira nos desfiles, porque de certa forma é uma identidade que a gente tem, a miscigenação. E não é por falta de modelos negras que elas não estão desfilando. A maioria (dos estilistas) copia a Europa, aí fica meio...

A cantora, a convite do estilista mineiro Victor Dzenk, está elaborando um desfile em homenagem à África e quer colocar apenas modelos negras para desfilar. Não encontrou dificuldade para compor o casting. O que falta é mudar o "hábito", "questionar com veemência" a supremacia branca nos desfiles de moda no Brasil, diz Thalma. Não faltam profissinais nem beleza para representar os negros, o que falta é oportunidade, conclui.

Terra Magazine - Sistema de cotas para negros em desfiles é uma boa iniciativa de inclusão?
Thalma de Freitas - Se funcionar, talvez. Eu sempre acho importante discutir, chamar a atenção das pessoas. Eu acho mesmo uma pena não ter todo tipo de mulher brasileira nos desfiles, porque de certa forma é uma identidade que a gente tem, a miscigenação. E tem modelos, não é por falta de modelos negras que elas não estão desfilando. Acho que é por falta de atitude, mesmo, um hábito. A maioria (dos estilistas) copia a Europa aí fica meio... Quando não se questiona com veemência, fica difícil mesmo as pessoas mudarem de atitude, até porque a maioria dos estilistas são brancos. Tem algum estilista negro?

O Marcelo Falcão tem uma grife...
...Teve uma época em que achava isso, que não tinha muitos modelos negros porque não tinha estilistas negros e as pessoas tendem a representar elas próprias e seu próprio mundo, sua própria realidade, mas eu acho que eu estava errada. Já não acho mais isso.

Você acha que o estilista, mesmo que seja branco, para representar o Brasil tem que incluir modelos negros?
Eu não acredito que brasileiro tenha uma raça definida. Do mesmo jeito que eu não acho que o (estilista Alexandre) Hercovitch seja um estilista branco, branco. No Brasil ninguém é branco. Aqui, a identidade do povo é muito miscigenada. As meninas de pele preta fazem falta (nos desfiles). Tanto faz falta que você está me ligando. Eu acho que a presença delas faz diferença para marcar a identidade da moda brasileira. Principalmente quando os estilistas mostram (seus trabalhos) fora do Brasil, se tivesse mais modelos negras, eu acredito que fortaleceria a identidade da moda brasileira. Não é um negócio arbitrário, é uma questão estética.

É o que você pretende compensar no desfile com o Victor Dzenk?
Eu, minha irmã e minha assistente, que é do Cabo Verde, a gente quer propor não ter nenhuma modelo loura. Por estética e porque faria parte da apresentação do desfile. A gente vai precisar de modelos mais curvilíneas, com peito, com bunda, porque a gente está falando da África, uma África imaginária. Mas a proposta, que não deixa de ser uma brincadeira, não é exatamente para levantar uma bandeira, mas se ele abraçar pode ficar interessante. Porque primeiro a gente vai ter que de repente lançar modelos negras no mercado.

Lançar?
Minha amiga, a Nêga (Mônica Assis), produtora de elenco no Rio de Janeiro, falei para ela procurar umas modelos. Ela falou: procurar não! Só te digo quem elas são. Elas estão todas aí, baby, precisando de trabalho. Eu ouço dizer que (a ausência) é porque não tem modelos negras. Mas se você não tem um mercado de trabalho para você se especializar, realmente fica complicado de ganhar experiência.

A estilista Glória Coelho questiona a presença de modelos negras nas passarelas, quando já há muitos negros nos bastidores dos desfiles. Mesmo que ela não creia que as tarefas se excluam, pode dificultar o ingresso de modelos negras no mercado?
Claro, é isso que dificulta. O que dificulta são as pessoas não acharem que a beleza negra é digna de representação. O mercado da moda é muito grande, importante, mexe com muito dinheiro. Como a gente está no Brasil, é óbvio que a maioria dos profissionais que fazem as roupas são negros porque nós somos uma quantidade muito considerável da população nacional. Não é sobre isso que a gente está falando. A gente está falando da representação da beleza negra como parte da beleza brasileira no mercado de moda nacional.

Sim.
Ninguém está aqui fazendo caridade, ninguém está pedindo favor. A questão das cotas... não é confortável. Eu - sou mulher negra - acho desconfortável quando alguém me diz que só tenho um contrato na rede Globo porque eles precisam manter a cota. É desmerecer meu talento, desmerecer minha pessoa. É uma questão política de você encontrar um mercado de trabalho justo e honesto e equilibrado. Porque o racismo, infelizmente, ainda faz parte da nossa cultura. Não é só no Brasil. O racismo no Brasil é grave porque a maioria dos brasileiros tem pele escura, então a ausência do negro é que o problema. Por que têm que estar na passarela? Porque é modelo, modelo de beleza, pra servir de referência. Por que a gente não pode servir de referência? Não entendi. Vide a Patrícia de Jesus. Patrícia de Jesus, minha amiga, é uma top, é negra, é linda. É uma coisa maravilhosa de ser, uma referência de beleza para mim e para todas as meninas negras no Brasil. Por que é que ela não pode estar na passarela? Vou reiterar: não é um favor! Ninguém está fazendo caridade. É um equilíbrio. É legitimidade da beleza brasileira.





Fonte: Terra Magazine

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