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September 16, 2008

Zimbabwe: um povo de pedra

Eram os deuses astronautas? Estudiosos preferem imaginar que viajantes extraterrestres desceram na África e realizaram grandes obras arquitetônicas a admitir o grande desenvolvimento de civilizações africanas, destruídas pela ganância européia.

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Por Oswaldo Faustino*



O nome Zimbabwe pode nos remeter à gravadora de discos que lançou os Racionais MC's e o Negritude Jr., entre outros grupos e artistas de sucesso. Sem dúvida, uma iniciativa de grande mérito para nossa gente. Mas o Zimbabwe é muito mais. Tem uma história tão reluzente quanto o ouro descoberto em seu território, pelos europeus, na segunda metade do século 17, e que despertou a cobiça dos ingleses. Cobiça que cresceu, sem limites, com o encontro de outros minerais nobres, como o cobre e o diamante.

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A apuradíssima técnica da construção de pedras


Antes deles, os portugueses já haviam invadido aquela região, escravizando nativos e os traficando para as Américas e o Caribe. Esse milionário "serviço de exportação" fez com que Portugal não medisse esforços na tentativa de se apossar daquele território, para unir suas duas principais colônias: Angola e Moçambique.

Era só assim que a Europa via a África: um inesgotável celeiro de riquezas vegetais, minerais e animais. Entre as riquezas exploradas, estavam também milhões de africanos escravizados e vendidos, mundo afora, não só para serem mão-de-obra gratuita, mas também moedas de troca, dada em pagamento na compra de terras e bens de consumo.

Mas a história do Zimbabwe antecede em muito esse período. Na região foram encontrados fósseis que datam de 500 mil anos antes de Cristo e se desenvolveu uma das culturas mais avançadas do continente, comparável à do Egito, à do Mali e à da Abissínia, nos tempos da Rainha de Sabah.

Trata-se do Império de Monomotapa ou Mwanamutapa, uma civilização cujos primeiros habitantes foram os povos Chonas, aos quais se integram os Makaranga, ambos pertencentes à etnia Bantu. Esse império existiu por cerca de quatro séculos, desenvolveu uma sofisticada técnica de construção de pedras e mantinha intercâmbios comerciais com povos muito distantes, como a China e a Índia.

Ainda hoje se encontram na região as ruínas de palácios, templos e monumentos. Entre elas, destaca-se uma muralha oval de 2 quilômetros e meio de extensão, com 9 metros de altura e 4 metros e meio de largura. No centro há duas torres com altura de 10 metros cada.

O nome Zimbabwe, adotado após a independência pela antiga Rodésia do Sul, em 1980, se origina de Dzimbabew: DZIMBA quer dizer CASA e IBWE é PEDRA. E seu povo, há muito, resiste como suas edificações pedra, às inúmeras agruras que vão de boicote econômico internacional a desmandos políticos, passando pelo apartheid, por guerrilhas e uma dura repressão policial.

A história contemporânea do Zimbabwe começa no século 19, com a chegada do explorador inglês Cecil John Rhodes, fundador da Companhia Britânica do Sul da África. A rainha da Inglaterra deu-lhe concessão para a exploração de minérios naquele território. Com o apoio de tropas do Reino Unido, massacrou os grupos étnicos Mashona e Matabele e expulsou os portugueses.

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Peças de madeira esculpida pelo povo Chona, utilizadas como travesseiro. Decorados por motivos africanos. Coleção The Metropolitan Museum of Art


No Congresso de Berlim (entre novembro de 1884 a fevereiro de 1885), a Inglaterra recebeu a região como protetorado. E seu preposto foi ninguém menos que o próprio Rhodes, através de sua empresa mineradora.

Para homenagear a si próprio, Rhodes a batizou de Rodésia. Depois o território foi dividido em duas áreas: a Rodésia do Norte e a Rodésia do Sul. Colonos brancos instalamse na do Sul, desenvolvendo a região e implantando o sistema de apartheid, semelhante ao da África do Sul.

Nos anos 50, juntamente com a Niassalândia, as duas Rodésias formaram, sob tutela britânica, a Federação da África Central. Em 1963, essa federação foi dissolvida e, no ano seguinte, a Niassalândia tornouse independente, adotando o nome de Malawi. A Rodésia do Norte também conquistou a independência e rebatizou-se de Zâmbia. Mas a Inglaterra recusou a independência à Rodésia do Sul, governada pelo partido branco Frente Rodesiana, liderado por Ian Smith.

Essa independência só aconteceu em 1965. Descontente, o Reino Unido levou a ONU a impor sanções econômicas ao país, que recebeu apoio da África do Sul e de Moçambique, na época ainda sob domínio português.

Com a independência de Moçambique, em 1975, a guerrilha se fortaleceu e o país viveu pelos menos três anos de conflitos armados. Dois líderes rodesianos que se destacam nessas lutas são Robert Mugabe, da União Nacional Africana do Zimbabwe (Zanu), e Joshua Nkomo, da União Africana do Povo do Zimbabwe (Zapu).

As eleições realizadas em abril de 1979, vencidas pela união desses dois grupos, deram ao bispo Abel Muzorewa, o cargo de primeiro-ministro. Mas, em dezembro, o Parlamento foi dissolvido, Muzorewa renunciou e a Inglaterra retomou o país como colônia.

A independência só chegou em abril de 1980. Robert Mugabe se tornou primeiro-ministro, o país assumiu o nome de Zimbabwe e foi admitido na ONU. Amigos antes, inimigos depois: Nkomo passou para a oposição e a guerrilha continuou, agora com apoio da África do Sul e da elite branca, através da Aliança Conservadora, do ex-primeiro-ministro Ian Smith.

Os dois líderes só voltaram a se unir sete anos depois. Com apoio de seu partido União Nacional Africana do Zimbabwe - Frente Patriótica (Zanu-PF) Mugabe foi eleito presidente em 1984, 1990, 1996 e 2002. Volta e meia, a mídia internacional coloca essas eleições sob suspeita e o chama de ditador. No final de março deste ano, aconteceram novas eleições. Mugabe concorreu com Morgan Tsvangirai, do Movimento para a Mudança Democrática (MDC). Ambos os lados se declararam vencedores, mas os resultados ainda não foram anunciados oficialmente.

Um novo conflito pode estar prestes a ocorrer, como aconteceu recentemente no Haiti. Aves de rapina esfregam as asas internacionais, exultantes, torcendo para que resulte em banho de sangue. Além de render-lhes muito lucro, através do comércio de armas, serve também como argumento para que continuem afirmando que os africanos são incapazes de administrar suas próprias nações.



*Oswaldo Faustino é jornalista, escritor e pesquisador de história e cultura afro-brasileiras.


Fonte: Revista Raça Brasil

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