Genética resgata negros excluídos da história familiar
O uso da genética na busca por ancestrais está trazendo à tona a participação, muitas vezes excluída, dos negros na formação das famílias brasileiras. Por meio de exames de DNA, que identificam a origem geográfica de ancestrais, famílias se deparam com a existência de antepassados africanos que, por diferentes razões, não faziam parte da história familiar.
Em vários casos, dizem especialistas, o motivo da omissão é o preconceito, e algumas pessoas custam a acreditar nos resultados. O brasileiro Max Blankfeld, um dos sócios de um laboratório de pesquisa genética dos Estados Unidos, que também faz exames para o Brasil, afirma que já viu essa situação diversas vezes.
"Algumas pessoas questionam os resultados, pedem para eu refazer o teste. Eu refaço, mas o DNA não mente", disse o vice-presidente do Family Tree DNA, que detém o maior banco de dados genéticos dos Estados Unidos e tem um projeto de mapeamento genético no Brasil. Blankfeld acrescenta, porém, que a maioria das pessoas encara a surpresa positivamente. "Na maioria das vezes, apesar da surpresa, a reação é positiva".
Esse foi o caso do cearense Gilberto Leite da Silva, funcionário público de 44 anos e um dos leitores selecionados pela BBC Brasil para fazer seu exame de DNA. "Aqui no Nordeste, o negro é muito excluído. Nenhuma família admite origem africana, ninguém faz menção a isso. Mas tenho certeza de que tenho algum ancestral africano pela minha pele, pelo biotipo do meu pai", disse Gilberto, antes de fazer os exames, como parte da promoção "Descubra seus ancestrais".
Ao descobrir que era 18,6% africano, o cearense disse que, agora, sua "grande busca" será descobrir de onde veio essa origem. "Não tem nenhum histórico na família que me mostre: esse seu tio é negro ou essa sua tia é negra. Vou atrás disso".
Assim como Gilberto, um número expressivo de leitores que participou da seleção da BBC Brasil falou do desejo de saber mais sobre prováveis origens africanas desconhecidas ou omitidas pela família.
As reações de espanto não são exclusividade de brasileiros. O americano Gerry Bass, de 74 anos, militar aposentado que sempre se considerou o "mais branco e anglo-saxão possível", admite que duvidou dos primeiros testes de DNA que indicaram que ele teve um ancestral negro que viveu na África há cerca de mil anos.
"Pedi para uma empresa alemã fazer o teste e eles voltaram com o mesmo resultado. De repente, todas essas idéias de grandeza, de que eu vinha da Europa, foram derrubadas e expostas pela verdade dos testes de DNA", disse Bass.
Toda a pesquisa genealógica que Bass havia feito até então apontava apenas para Inglaterra e França. "Tive de mudar meus sentimentos, meus preconceitos, quando descobri que tinha sangue africano. Isso faz você olhar para um mundo de uma forma diferente de quando você pensava ser "puro". Nós somos a soma de tudo o que veio antes e não sabemos o que vai aparecer, nem quando."
O aposentado, que hoje se diz orgulhoso das raízes na África, conta também a história de uma prima distante para quem revelou - como parte de um projeto de rastreamento genético de toda a família - o resultado de um teste de DNA que indicava que o pai e o irmão dela tinham ancestralidade africana.
"Ela disse que não era possível. O pai e o irmão eram membros da Ku Klux Klan. Eles se recusaram a acreditar, mas você não pode negar a verdade." O fenômeno que a genética revela já era percebido por pesquisadores de genealogia. Carlos Eduardo de Almeida Barata, que fundou a empresa Gens Brazilis, de pesquisas de história e genealogia para famílias, conta que já se deparou com casos de pessoas que, ao descobrir ancestrais escravos ou ex-escravos, pediram que a informação fosse omitida.
"Infelizmente, me deparei com casos assim. Muita gente quer ser nobre, mas isso nem sempre é possível. Existe um número limitado de reis e duques, mas tem gente que não se conforma", disse.
O pesquisador, co-autor do Dicionário de Famílias Brasileiras, que reúne informações sobre a origem dos sobrenomes presentes no Brasil, destaca, no entanto, que o preconceito é menor entre os mais jovens e que essa negação da origem africana tende a diminuir.
Parte dessa nova geração, a historiadora gaúcha Luciana Lopes dos Santos, de 25 anos, ficou, de certa forma, decepcionada com o resultado de seu exame de DNA, mas pelo motivo inverso.
Ela esperava que a genética lhe desse mais informações sobre suas origens africanas - herdadas, sobretudo, de seu tataravô que foi escravo -, mas se surpreendeu com o pequeno percentual africano que seus genes revelaram.
A estimativa dos exames é de que a gaúcha, ruiva e de pele branca, seja 96% européia, 2,6% ameríndia e 1,4% africana. "Imaginava que ia dar uma herança africana maior, que um pouco mais tinha restado", disse.
Fonte: Site Terra Notícias
Em vários casos, dizem especialistas, o motivo da omissão é o preconceito, e algumas pessoas custam a acreditar nos resultados. O brasileiro Max Blankfeld, um dos sócios de um laboratório de pesquisa genética dos Estados Unidos, que também faz exames para o Brasil, afirma que já viu essa situação diversas vezes.
"Algumas pessoas questionam os resultados, pedem para eu refazer o teste. Eu refaço, mas o DNA não mente", disse o vice-presidente do Family Tree DNA, que detém o maior banco de dados genéticos dos Estados Unidos e tem um projeto de mapeamento genético no Brasil. Blankfeld acrescenta, porém, que a maioria das pessoas encara a surpresa positivamente. "Na maioria das vezes, apesar da surpresa, a reação é positiva".
Esse foi o caso do cearense Gilberto Leite da Silva, funcionário público de 44 anos e um dos leitores selecionados pela BBC Brasil para fazer seu exame de DNA. "Aqui no Nordeste, o negro é muito excluído. Nenhuma família admite origem africana, ninguém faz menção a isso. Mas tenho certeza de que tenho algum ancestral africano pela minha pele, pelo biotipo do meu pai", disse Gilberto, antes de fazer os exames, como parte da promoção "Descubra seus ancestrais".
Ao descobrir que era 18,6% africano, o cearense disse que, agora, sua "grande busca" será descobrir de onde veio essa origem. "Não tem nenhum histórico na família que me mostre: esse seu tio é negro ou essa sua tia é negra. Vou atrás disso".
Assim como Gilberto, um número expressivo de leitores que participou da seleção da BBC Brasil falou do desejo de saber mais sobre prováveis origens africanas desconhecidas ou omitidas pela família.
As reações de espanto não são exclusividade de brasileiros. O americano Gerry Bass, de 74 anos, militar aposentado que sempre se considerou o "mais branco e anglo-saxão possível", admite que duvidou dos primeiros testes de DNA que indicaram que ele teve um ancestral negro que viveu na África há cerca de mil anos.
"Pedi para uma empresa alemã fazer o teste e eles voltaram com o mesmo resultado. De repente, todas essas idéias de grandeza, de que eu vinha da Europa, foram derrubadas e expostas pela verdade dos testes de DNA", disse Bass.
Toda a pesquisa genealógica que Bass havia feito até então apontava apenas para Inglaterra e França. "Tive de mudar meus sentimentos, meus preconceitos, quando descobri que tinha sangue africano. Isso faz você olhar para um mundo de uma forma diferente de quando você pensava ser "puro". Nós somos a soma de tudo o que veio antes e não sabemos o que vai aparecer, nem quando."
O aposentado, que hoje se diz orgulhoso das raízes na África, conta também a história de uma prima distante para quem revelou - como parte de um projeto de rastreamento genético de toda a família - o resultado de um teste de DNA que indicava que o pai e o irmão dela tinham ancestralidade africana.
"Ela disse que não era possível. O pai e o irmão eram membros da Ku Klux Klan. Eles se recusaram a acreditar, mas você não pode negar a verdade." O fenômeno que a genética revela já era percebido por pesquisadores de genealogia. Carlos Eduardo de Almeida Barata, que fundou a empresa Gens Brazilis, de pesquisas de história e genealogia para famílias, conta que já se deparou com casos de pessoas que, ao descobrir ancestrais escravos ou ex-escravos, pediram que a informação fosse omitida.
"Infelizmente, me deparei com casos assim. Muita gente quer ser nobre, mas isso nem sempre é possível. Existe um número limitado de reis e duques, mas tem gente que não se conforma", disse.
O pesquisador, co-autor do Dicionário de Famílias Brasileiras, que reúne informações sobre a origem dos sobrenomes presentes no Brasil, destaca, no entanto, que o preconceito é menor entre os mais jovens e que essa negação da origem africana tende a diminuir.
Parte dessa nova geração, a historiadora gaúcha Luciana Lopes dos Santos, de 25 anos, ficou, de certa forma, decepcionada com o resultado de seu exame de DNA, mas pelo motivo inverso.
Ela esperava que a genética lhe desse mais informações sobre suas origens africanas - herdadas, sobretudo, de seu tataravô que foi escravo -, mas se surpreendeu com o pequeno percentual africano que seus genes revelaram.
A estimativa dos exames é de que a gaúcha, ruiva e de pele branca, seja 96% européia, 2,6% ameríndia e 1,4% africana. "Imaginava que ia dar uma herança africana maior, que um pouco mais tinha restado", disse.
Fonte: Site Terra Notícias
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