PROJETO NEGROS E NEGRAS EM MOVIMENTO

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July 13, 2008

Capoeira poderá se tornar patrimônio cultural brasileiro

Uma das maiores expressões culturais afro-brasileiras pode ser reconhecida,
esta semana, como patrimônio histórico e artístico imaterial brasileiro.


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Nesta terça-feira, 15 de julho, será apreciada a proposta de registro da capoeira como patrimônio cultural do Brasil, durante a reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Palácio Rio Branco, em Salvador. Estarão presentes no evento o ministro interino da Cultura, Juca Ferreira, o governador da Bahia, Jacques Wagner, o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, além de autoridades locais e diversos grupos de capoeiristas, que pretendem acompanhar a votação e realizar uma grande roda em frente ao palácio do governo.

O pedido de registro da capoeira foi uma iniciativa do Iphan e do Ministério da Cultura. É resultado de uma ampla pesquisa realizada entre 2006 e 2007 para a produção de conhecimento e documentação sobre o bem imaterial, sintetizada num dossiê final.

Os capoeiristas vão celebrar o registro de sua arte com um grande evento no Teatro Castro Alves, oferecido pelo Ministério da Cultura, o Iphan, a Fundação Cultural Palmares e o Governo do Estado. Já estão confirmadas apresentações dos baianos do Recôncavo, Marienne de Castro e Roberto Mendes, dos percussionistas Naná Vasconcelos, Wilson Café e Ramiro Musotto, além do mestre capoeirista Lorimbau. A entrada será gratuita e haverá distribuição de ingressos na véspera.

Ainda no Teatro Castro Alves, será aberta a exposição Na roda da capoeira, produzida a partir do inventário realizado entre 2006 e 2007 para o registro deste bem cultural. São pinturas, esculturas em barro, instrumentos musicais, xilogravuras e folhetos de cordel que retratam o universo da capoeiragem. Na ocasião, também haverá o lançamento do livro, produzido pelo Iphan, Ofício das baianas do acarajé. O material é resultado do processo de registro, em janeiro de 2005, desse outro saber característico da cultura afro-brasileira.

Um pouco sobre a história da capoeira

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A capoeira é uma herança deixada pelos negros bantos, vindos de Angola como escravos. Foi cultivada e praticada por escravos fugitivos que, quando sob risco de serem recapturados, defendiam-se usando a técnica como uma espécie de arte marcial. Para não levantar suspeitas, os movimentos da luta foram sendo adaptados às cantorias e músicas africanas, de modo a parecerem uma dança.

A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como principais funções a manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capoeirão. Do nome deste lugar - que é um vocábulo tupi-guarani significando "mato ralo" - foi que surgiu o nome da luta. Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando-as a um tipo de luta. Surgia assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento muito importante da resistência cultural dos escravos brasileiros.

A partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, pelo artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de reclusão), a repressão policial abateu-se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram considerados por muitos como "mendigos ou vagabundos". Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas.

Hoje, capoeira é arte, dança, esporte, cultura brasileira. Símbolo de identidade, solidariedade e resistência, a capoeira não deixou de ser perseguida depois do fim da escravidão. Mas foram os mestres Bimba e Pastinha os responsáveis pela adaptação da capoeira aos novos tempos, de forma que ela pudesse sobreviver.

Na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro-brasileiras começaram a ser discutidas e passaram a constituir um referencial cultural do país. Assim, no início dos anos 1930, a capoeira começou a ganhar aceitação por parte das autoridades, e, em 1937, Manuel dos Reis Machado, o mestre Bimba, criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia. A capoeira regional nascia como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de aprendizagem, descreveu os golpes, toques e cantos, as indumentárias especiais, os batizados e as formaturas.

No mesmo ano, Mestre Bimba recebeu um convite do então interventor da Bahia, general Juracy Magalhães, para organizar uma roda de uma variação da capoeira (chamada "Regional") para o presidente Getúlio Vargas, que visitava Salvador. Desde então, a Capoeira ganhou reputação como arte marcial no mundo inteiro, assim como por sua função social e educativa. O presidente gostou tanto da arte que a transformou em esporte nacional brasileiro.

Em seguida, mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado por métodos próprios. Pastinha enfatizou o lado lúdico e artístico da capoeira, destacando os treinos de cantos e toques de instrumentos. Também ressaltou a necessidade da manifestação ser exercida em busca da integridade física e espiritual, e buscou na tradição conceitos centrais, como a malícia e a ilusão do adversário sempre que possível, para evitar movimentos mecânicos e previsíveis. Para ele, a capoeira era um esporte, uma luta, mas também uma reza, lamento, brincadeira, dança, vadiagem e um momento de comunhão.

Essas iniciativas propiciaram o surgimento de outras academias e centros destinados a este fim. Constituiu-se, então, uma hierarquização na transmissão deste saber, e foram criados códigos de conduta a serem seguidos nas rodas e treinos (do vestuário às regras para tocar instrumentos, início dos treinos e até a forma de entrar na roda), estabelecendo-se assim uma metodologia de ensino.

A capoeira brasileira é hoje um dos esportes mais praticados no mundo, sendo no Brasil, implementada em quase todas as instituições de ensino público como atividade de educação física. O registro de patrimônio imaterial também deverá valorizar o ofício dos mestres nesse saber que mistura luta, música e dança, responsáveis pela divulgação dessa atividade em mais de 150 países, os mestres terão finalmente sua habilidade de ensino reconhecida.


Plano de Salvaguarda da Capoeira


1) Reconhecimento do notório saber dos mestres de capoeira pelo Ministério da Educação

Espera-se que o registro do saber do mestre de capoeira como patrimônio cultural do Brasil possa favorecer a sua desvinculação obrigatória do Conselho Federal de Educação Física, ao qual a capoeira está subordinada. Entende-se que o saber do mestre não possui equivalente no aprendizado formal do profissional de Educação Física, mas que se estabelece como acervo da cultura popular brasileira. A proposta pretende contribuir para que mestres de capoeira sem escolaridade, mas detentores do saber, possam ensinar capoeira em colégios, escolas e universidades.

2) Plano de previdência especial para os velhos mestres de capoeira.

Diante de um histórico de mestres importantes, como Bimba e Pastinha, que morreram em sérias dificuldades financeiras, existe a sugestão da elaboração, junto à Previdência Social, de um plano especial para mestres acima de 60 anos que tenham tido dificuldades de contribuir com a entidade ao longo dos anos. Como se trata de uma ação de emergência, que busca acolher os mestres atuais que vivem em absoluto estado de carência, recomenda-se que essa proposta tenha implantação imediata e perdure até que os futuros mestres possam dispensar essa ação de salvaguarda.

3) Estabelecimento de um Programa de Incentivo da Capoeira no Mundo

Outro ponto importante diz respeito à dificuldade dos mestres circularem pelos países onde são convidados a ensinar capoeira. Espera-se que o Itamaraty possa inserir a capoeira nos seus programas de apoio à difusão da cultura brasileira e, dessa maneira, facilitar o trânsito de mestres e grupos que oferecem cursos e apresentam rodas no exterior.

4) Criação de um Centro Nacional de Referência da Capoeira

Foi proposta a criação do Centro Nacional de Referências da Capoeira no Brasil, que será virtual, de caráter multidisciplinar e multimídia, com o objetivo de abrigar produções científicas, acadêmicas e audiovisuais, dentre outras. Espera-se que essa iniciativa possa facilitar consultas de referências existentes sobre a capoeira.

5) Plano de manejo de biriba e outros recursos.

Atualmente, existe um amplo e crescente mercado de bens culturais constituídos por itens da cultura material da capoeira. Muitos deles são confeccionados artesanalmente, valendo-se da técnica e matéria-prima nativa do Brasil. A biriba - madeira tradicionalmente utilizada na confecção dos berimbaus - é a mais utilizada, mas há outras madeiras da Mata Atlântica ameaçadas de extinção, como o pau d´arco, a pitomba, a tauarí , dentre inúmeras outras. Sugere-se o plano de manejo dessas espécies nativas ameaçadas para atender à crescente demanda de matéria-prima para a confecção dos berimbaus e demais instrumentos.

6) Fórum da Capoeira

O objetivo desse fórum é estimular encontros periódicos dos mestres e estudiosos da capoeira, em parceria com universidades. É notório que alguns mestres possuem conhecimento acadêmico, mas não é o caso da maioria. Pretende-se com essa medida integrar a tradição oral ao ambiente de pesquisa acadêmica.

7) Banco de Histórias de Mestres de Capoeira

Com a criação dessa medida, serão realizadas oficinas de história oral para capoeiristas interessados em registrar as trajetórias de vida de mestres antigos. O objetivo desse banco é dar suporte e integrar o Centro Nacional de Referências da Capoeira.

8) Realização do Inventário da Capoeira em Pernambuco

Existe a intenção de incentivar, auxiliar e aprofundar as pesquisas sobre a capoeira em Recife, com base nas referências indicadas durante o processo de inventário utilizado no pedido de registro.

Serviço:

Reunião do Conselho Consultivo do Iphan
Data: 15/07/2008
Horário: a partir das 14h30

Local: Salão dos Espelhos do Palácio Rio Branco - Praça Tomé de Sousa, s/n, Centro - Salvador / BA

Shows: Marienne de Castro, Roberto Mendes, Naná Vasconcelos, Wilson Café, Ramiro Musotto, Lorimbau e Orquestra de Berimbau.

Horário: 19h

Local: Teatro Castro Alves - Praça 2 de julho, s/n, Campo Grande - Salvador/BA



Fonte: Fundação Palmares

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